Efeitos socioeconômicos da crise da cotonicultura agravada com a praga do "bicudo": estudo de caso: município de Ingá, PB.
Ano de defesa: | 1986 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Campina Grande
Brasil Centro de Humanidades - CH PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA RURAL E REGIONAL UFCG |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Link de acesso: | http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/3594 |
Resumo: | O presente trabalho tem, como objeto de análise, as relações entre a tendência declinante da cotonicultura, principal produto agrícola do semi - árido, e as mudanças que se observam nas estruturas sócio-econômicas da agricultura regional. A questão fundamental que orienta este trabalho é a de averiguar como a principal atividade de sobrevivência da maioria dos camponeses do semi-árido se realiza no interior de uma sociedade de classes e está marcada por profundos antagonismos, dependendo, de forma absoluta, da conjunturado mercado internacionalizado o e das políticas destinadas a proteger, exclusivamente, os interesses dos grandes proprietários, das agroindústrias e dos bancos. A idéia original do trabalho surgiu durante o curso de Mestrado, gerada a partir da minha vinculação familiar e profissional com a agricultura do semi-árido e, particularmente, pelo impacto produzido no meio rural pela convergência de uma seca prolongada com o aparecimento de uma praga (a do Bicudo) de efeitos destruidores desconhecidos. Ao querer analisar a influência desse novo fenômeno (biológico) no sistema agrícola predominante no semi-árido, deparamo-nos com a necessidade de esclarecer a natureza sócio-econômica desse sistema particular e do subdesenvolvimento regional, em geral esclarecer por que, apesar do considerável crescimento quantitativo registrado em anos recentes pela economia regional, apesar dos diferentes programas especiais de desenvolvimento e dos vultosos investimentos canalizados polo Governo Federal para o Nordeste, a economia regional e, de forma especial, a agricultura do semi-árido, continuam sendo tanto mais vulneráveis que antes das adversidades " naturais ". Procurando a resposta para esta questão, entramos em contato com a literatura que analisa, criticamente, o "modelo", a estratégia econômica e as políticas agrícolas correspondentes, procurando desvendar a natureza das relações entre o tipo de acumulação concentradora de capital e o aumento das desigualdades e contradições sociais. Neste percurso, deparamo-nos com algumas questões de ordem teórica e prática, que nos levaram a organizar este trabalho para um reexame da correlação entre à modernização conservadora" (expansão da cana-de-açúcar e da pecuária extensiva) e o deslocamento gradativo da força do trabalhador rural, seu desenraizamento e expulsão. Estrutura do trabalho. 0 trabalho sobre a problemática acima esboçada se estrutura em cinco capítulos, era que no primeiro nos ocupamos em resumir os pontos teóricos que servem de referência para a delimitação do assunto e para a organização da pesquisa.Na primeira parte deste capítulo, explicitamos, a partir da literatura sobre o tema, a nossa visão do "modelo" econômico, da estratégia de desenvolvimento agrícola e da questão Nordeste, buscando definir a especificidade da agricultura paraibana, que consiste, basicamente, na cisão do trabalhador rural em relação à terra e a outros meios de produção e de da, resultante da concentração da propriedade fundiária e das estruturas de poder rural. Tentamos mostrar que tal cisão se radicaliza à medida que o capitalismo avança. Na segunda p a r t e do capítulo registramos que o processo de concentração de terras e capitais se configura no quadro de uma organização oligopólica dos mercados que excluem e marginalizam cadia vez mais os pequenos produtores, a força de trabalho, em geral. As políticas do governo aparecem como formas pelas quais o latifúndio e o complexo agroindustrial, resultante do modelo de industrialização monopolista, tentam contornar o agravamento dos desequilíbrios econômicos e das graves contradições sociais. 0 segundo capítulo procura elucidar a dinâmica atual da cotonicultura paraibana, no contexto nordestino e brasileiro. 0 Capítulo 3 analisa a relação entre o declínio da çotonicultura regional e o processo de desagregação das condições de produção da existência da massa de produtores diretos. Tal processo, acelerado principalmente pela praga do bicudo, é originado por um fenômeno mais profundo: a expansão do capitalismo latifundiário, concentrador e excluinte. 0 Capítulo A mostra em que consiste a praga do " bicudo ", como surgiu, como se alastrou pela geografia cotonicultora regional e quais são as consequências no contexto geral. Finalmente , o Capítulo 5 resume e interpreta os resultados da pesquisa de campo sobre os efeitos da praga do bicudo no município de. Ingá. Em suma, o a que nos propomos neste trabalho é tentar: a) revelar a falácia das teses que atribuem ao bicudo (ou à seca) a responsabilidade pela degradação das condições de sobrevivência dos camponeses do semi-árido; b) mostrar, através da análise de um caso representativo (o do Ingá) que a crise da çotonicultura tradicional não é resultado de um fatalismo biológico (ou raetereológico) mas, sim, uma consequência lógica de concretas estruturas sócio - econômicas, do poder latifundiário, das políticas governamentais, cujos benefícios são confiscados pelas oligarquias regionais) evidenciar, junto a isso, que a natureza específica da crise da çotonicultura tradicional não transparece claramente, devido à camuflagem "social" das formas mercantis que, através de contratos de arrendamento,da compra-venda de algodão, insumos e, sobretudo, dos programas especiais de desenvolvimento regional, de "apoio aos pequenos produtores", dão a idéia de um suposto interesse comum para todo o Nordeste em bloco, eliminando as diferenças e antagonismos sociais. Acreditamos que nossa pesquisa soma argumentos e evidências para o diagnóstico da agricultura paraibana, para demonstrar que a cisão cada vez mais profunda entre os trabalhadores rurais e as condições objetivas de produção de sua sobrevivência, somente poderá ser revertida a partir da Reforma Agrária e outras medidas que garantam o acesso do trabalhador agrícola à terra e aos demais meios de produção, de comercialização e de financiamento. |