Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2023 |
Autor(a) principal: |
Luiz, João Gomes |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/71991
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Resumo: |
Este trabalho propõe o estudo de Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), obra de Carolina Maria de Jesus, por meio da problematização sobre as representações coloniais e escravistas na literatura e como esses processos, associados à Memória e Consciência, de Gonzalez (1984), delineiam a escrita de Carolina, marcada por uma literatura de travessia, a qual caminha por sistematizações que desestabilizam a literatura em seu sentido amplo. Gonzalez (1984) entende memória como a identidade da sabedoria popular, de origem negra, a qual faz resistência e executa atividades de resgate de seus costumes diante da Consciência, saber permitido e disseminado pelo Estado masculino, branco e heterossexual. Essas disputas, desde o Brasil-Colônia, reverberam suas consequências, também, na narrativa descrita em Quarto de despejo, mostrando o eco de violências baseadas na cor, no gênero e na origem social praticadas contra a autora-personagem Carolina Maria de Jesus e seus vizinhos de infortúnio. Narrado nos anos de 1955, 1958, 1959 e 1960, o diário denuncia as mazelas da fome e do abandono no cotidiano miserável vivenciado pela autora, uma mãe solo de três filhos, oriunda de Sacramento (interior de Minas Gerais) e moradora da (hoje extinta) favela do Canindé, situada às margens do Rio Tietê, em São Paulo. A narrativa autorrepresentativa de Carolina é um documento literário contrastante à ideologia política da época, pautada na intensa veiculação da palavra modernidade pelo governo desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek como uma realidade promissora ao alcance de todos. Observando esse contexto, através da dialética entre Memória e Consciência no discurso literário de Carolina, esta pesquisa divide-se em três macrosseções: apura-se a representação ficcional da pessoa negra na literatura brasileira sob os imaginários culturais erigidos pela branquitude e as narrativas antiescravistas de Carolina e de precursores da vertente negro-brasileira; analisa-se as violências de gênero e de classe praticadas contra a mulher (negra) subalternizada dentro da urbe e os efeitos da fome psíquica sobre grupos marginalizados no meio urbano e investiga-se a desestabilização na categorização literária decorrente do projeto de escrita de Quarto de despejo. Os alicerces teóricos presentes versam sobre: o impacto do racismo e do sexismo na construção das identidades negro-brasileiras (GONZALEZ, 1984); as discussões sobre a vertente literária negro-brasileira, os desafios enfrentados pelo sujeito étnico do discurso nesse percurso (CUTI, 2010), (BROOKSHAW, 1984); os estudos biográficos sobre Carolina Maria de Jesus (FARIAS, 2018), (MEIHY; LEVINE, 2015), (CASTRO; MACHADO, 2007); os debates sobre a construção social da pessoa negra (NASCIMENTO, 2016), (FANON, 2020); os efeitos da fome psíquica sobre o caipira e as formas de persistência de grupos subalternizados na urbe (CANDIDO, 1964); os efeitos do alterocídio - a morte do “outro”- na instalação da razão negra no Ocidente (MBEMBE, 2014) e da necropolítica, exercício da soberania estatal vigente na contemporaneidade através do controle dos corpos por políticas de morte (MBEMBE, 2018); os vestígios do primitivismo na obra de Carolina Maria de Jesus (BERGAMINI, 2020) e a desconstrução no processo de categorização literária exercido pela autora (FERNANDEZ, 2006, 2008). |