As estruturas reflexivas no português popular do interior do Estado da Bahia.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Souza, Jurgen Alves de lattes
Orientador(a): Lucchesi, Dante
Banca de defesa: Ramaciotti, Dante Eustáchio Lucchesi, Mota, Jacyra Andrade, Silva, Maria Cristina Vieira de Figueiredo, Jesus, Jorge Augusto de, Araújo, Silvana Silva de Farias
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37612
Resumo: Amparando-se nos fundamentos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista e no rigor estatístico do pacote de programas GOLDVARB X, esta tese analisou os processos de variação existentes nas estruturas consideradas reflexivas do português popular do interior do Estado da Bahia, partindo do pressuposto de que tais processos teriam origem nas situações de contato entre o português e as línguas indígenas e africanas através de um processo de transmissão linguística irregular de tipo leve ocorrido nos primeiros séculos de formação da sociedade brasileira, cujos efeitos teriam atingido com maior ou menor intensidade as diversas comunidades de fala do português brasileiro, conforme aponta, em ordem decrescente, o seguinte continuum: comunidades rurais afro-brasileiras > comunidades rurais não-marcadas etnicamente > pequenos centros urbanos > centros urbanos maiores. Inicialmente, seriam analisadas as variáveis dependentes realização do clítico dito reflexivo e marca de pessoa no clítico dito reflexivo, mas esta última não se mostrou um fenômeno de variação estruturada que justificasse uma análise e, consequentemente, foi retirada do trabalho, apresentando-se apenas, em uma subseção específica, uma síntese da frequência de suas variantes. No que se refere à variável realização do clítico dito reflexivo, os dados iniciais mostraram que o fenômeno ocorre com uma frequência de 43,9%, bem maior do que os 15% encontrados por Souza (2011), em comunidades rurais afro-brasileiras, reforçando as hipóteses norteadoras desta pesquisa. Assim, analisando-se as frequências da realização do clítico por município e comparando-as aos resultados obtidos por Souza (2011), constatou-se uma nítida gradação da frequência da realização do clítico, sendo 15 %, nas comunidades rurais afro-brasileiras, 22,6%, em Poções, 53,3%, em Santo Antônio de Jesus, e 56,7% em Feira de Santana, o que constitui uma evidência empírica em favor da hipótese de que a variação na realização do clítico dito reflexivo teria sido originada pela transmissão linguística irregular de tipo leve ocorrida no passado, atingindo com mais intensidade as comunidades rurais afro-brasileiras e com menos intensidade outras comunidades de fala, a depender da proximidade geográfica com grandes centros urbanos e, por conseguinte, do maior acesso aos padrões linguísticos urbanos. Quanto ao condicionamento linguístico da variável em análise, foi possível constatar que a realização do clítico é favorecida: (i) quando este tem um caráter reflexivo, recíproco ou inerente – os dois primeiros por possuírem mais valor informacional e o último por fazer parte da especificação lexical do verbo; (ii) pela presença de sujeito sintático com papel temático de paciente; (iii) pela presença de qualquer pessoa do discurso diferente de e , consideradas não-pessoas; e (iv) pela presença de sujeito sintático com traço semântico [+ animado]. Já em relação ao condicionamento social da referida variável, foi possível constatar que a realização do clítico dito reflexivo é favorecida pelos falantes oriundos de Santo Antônio de Jesus e Feira de Santana, localizados na sede do município e com alguma escolarização, em virtude do maior acesso a padrões linguísticos diferentes do vernáculo da sua comunidade de fala, seja por estarem geograficamente mais próximos de um grande centro urbano, por integrarem o ambiente urbano do seu próprio município ou por serem influenciados pelo aprendizado formal.