A responsividade e o envolvimento paterno em homens que exercem níveis de cuidado distintos no primeiro ano de vida do bebê

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Soares, Zelma Freitas lattes
Orientador(a): Alvarenga, Patrícia lattes
Banca de defesa: Alvarenga, Patrícia lattes, Piccinini, Cesar Augusto lattes, Barham, Elizabeth Joan lattes, Sousa, Lucivanda Cavalcante Borges de lattes, Vieira, Mauro Luís lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) 
Departamento: Instituto de Psicologia
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/38577
Resumo: Alguns estudos sobre a paternidade em famílias monoparentais, famílias homoafetivas masculinas e famílias heteroafetivas com homens envolvidos nos cuidados com a criança, indicam que pais mais diretamente envolvidos nos cuidados com o bebê no primeiro ano de vida podem ser mais responsivos a eles. Este estudo investigou a responsividade e o envolvimento paterno em homens que exerciam níveis de cuidado distintos no primeiro ano de vida do bebê. Foram definidos três níveis de cuidado paterno com base na literatura: primário (realizar cuidados diretos, principalmente, cuidados básicos, atendendo necessidades físicas e emocionais do bebê tanto quanto a/o companheira/o), secundário (realizar cuidados indiretos com frequência e auxiliar a/o companheira/o ou um segundo cuidador em cuidados diretos quando necessário) e provedor (se ocupar dos cuidados indiretos de provisão material da família e raramente executar cuidados diretos). Partindo do conceito de nível de cuidado paterno, foram realizados dois estudos complementares. O Estudo I foi um estudo descritivo que caracterizou aspectos subjetivos do envolvimento paterno em pais que exerciam três distintos níveis de cuidado no quinto mês de vida do bebê: primário, secundário e provedor. Participaram 10 pais primíparos (oito heteroafetivos e dois homoafetivos) que autorrelataram os cuidados e atividades realizados com o bebê em um questionário (via Google Forms) e responderam a Entrevista Semiestruturada sobre o Envolvimento Paterno em uma sessão online de aproximadamente 50 minutos. Os resultados do questionário permitiram classificar os dez participantes nos três níveis de cuidado. Os resultados da análise temática das entrevistas mostraram diferenças no modo como os pais cuidadores primário, secundário e provedor lidavam com três temas fundamentais da paternidade. O primeiro tema, tempo dos pais, revelou que os cuidadores secundários e provedores percebiam a falta de tempo como um forte motivo para o pouco envolvimento nos cuidados básicos dos filhos. Em contrapartida, os limites entre o tempo para o trabalho e o tempo para o bebé eram menos demarcados para os cuidadores primários. O segundo tema, interação dos pais, indicou que todos os pais relataram avanços no desenvolvimento motor dos filhos, que afetavam as interações. Contudo, apenas os cuidadores primários relataram avanços cognitivos e suas repercussões na interação que estabeleciam com os bebês. O terceiro tema, colo dos pais, revelou marcantes dificuldades enfrentadas pelos cuidadores secundários e provedores para confortar os bebês quando estavam aflitos e colocá-los para dormir, o que gerou angústia, principalmente para os cuidadores provedores. O Estudo II investigou o envolvimento e a responsividade paterna ao longo do primeiro ano de vida do bebê. Adotou delineamento de estudo de casos múltiplos longitudinal com avaliações no 5º, 7º, 9º e 11º mês de vida do bebê. Participaram três pais que integraram o Estudo I e seus bebês: um pai cuidador primário, um pai cuidador secundário e um pai cuidador provedor. Em cada uma das quatro medidas, os pais responderam a uma entrevista semiestruturada sobre o envolvimento paterno e foram observados durante uma sessão de 10 minutos de brincadeira livre com seus bebês. A análise dos dados contou com quatro etapas. Na primeira etapa, o conteúdo das entrevistas foi transcrito e descrito para obter uma compreensão holística (Yin, 2010) dos padrões de envolvimento paterno. Na segunda etapa, as observações foram submetidas à microanálise. Os vídeos da observação da interação pai-bebê foram codificados em intervalos de 12 segundos. Na primeira metade do intervalo, o comportamento infantil foi codificado em seis categorias: sorri, emite sons, chora, move/agarra, brinca com o pai e brinca sozinho. As respostas paternas foram codificadas ao longo de todo o intervalo de 12 segundos em sete categorias: fala para o bebê (fala não diretiva), sorri para o bebê, segura/embala o bebê, estimula com ou sem objeto, desestabiliza/move o corpo do bebê, comanda (fala diretiva) e age de forma intrusiva. Os índices de fidedignidade dos dois codificadores independentes atingiram 0,78 para as categorias de comportamentos infantis e 0,84 para as categorias de comportamentos paternos. Na terceira etapa, foi utilizado o modelo lógico de Yin (2010) para uma articulação dos dados sobre o envolvimento paterno com os dados acerca da responsividade paterna. Os resultados indicaram que o pai cuidador primário, que esteve continuamente envolvido com o cuidado direto ao longo do primeiro ano do bebê, principalmente com os cuidados básicos, não relatou dificuldades em tarefas complexas como acalmar o bebê e apresentou altas frequências de fala não diretiva, além de ter apresentado facilidade para engajar o bebê na interação. O cuidador secundário esteve ocasionalmente envolvido em cuidados diretos no quinto mês, mas relatou um aumento progressivo do seu envolvimento nos cuidados básicos aos finais de semana ao longo do primeiro ano. Relatou algumas dificuldades em acalmar o bebê e colocá-lo para dormir, e apresentou diminuição da fala não diretiva e da intrusividade, e aumento da fala diretiva durante as interações ao longo das quatro avaliações. O cuidador provedor, que raramente se envolvia com tarefas de cuidados básicos, relatou dificuldades marcantes em acalmar o bebê e colocá-lo para dormir, além de ter respondido frequentemente com comandos e de forma intrusiva ao comportamento do bebê durante a interação. Na quarta etapa da análise, a técnica de síntese cruzada dos casos (Stake, 2005) indicou que, comparado aos pais cuidadores primários e secundários, o cuidador provedor utilizou menos fala não diretiva, foi mais intrusivo e engajou menos o bebê durante a interação. Os achados apresentados nesta tese corroboram a ideia de que o envolvimento contínuo nas atividades de cuidados básicos oferece oportunidades para o pai perceber e treinar habilidades para responder com sensibilidade às mudanças comportamentais do bebê durante o primeiro ano. Adicionalmente, o envolvimento do pai nos cuidados básicos contribui para a redução de desigualdades de gênero em famílias heteroafetivas. Este trabalho pioneiro estabelece, portanto, o conceito nível de cuidado paterno, recomendando que esta seja uma dimensão central na pesquisa sobre a paternidade no primeiro ano de vida. Ademais, tem o potencial de inspirar diversas outras investigações que retratem cada vez mais o protagonismo do pai na construção de uma parentalidade em que a relação pai-filho se desenvolva com intimidade e confiança.