Para além do visível: princípios para uma audiodescrição menos visocêntrica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Silva, Manoela Cristina Correia Carvalho da
Orientador(a): Barros, Alessandra Santana Soares
Banca de defesa: Mianes, Felipe Leão, Farias, Sandra Regina Rosa, Araújo, Vera Lúcia Santiago, Beltrão, Lícia Maria Freire, Barros, Alessandra Santana Soares
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Educação
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29344
Resumo: A audiodescrição (AD) é uma modalidade de tradução que visa tornar acessíveis informações-chaves transmitidas de modo essencialmente visual. Seu público primário é formado por pessoas cegas e com baixa visão para as quais o recurso é não só uma fonte de informações, como também de lazer. A AD chegou ao Brasil há quase duas décadas. Nos últimos anos, a atividade deixou as sombras e ganhou o status de ocupação oficial, sendo incluída na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Como resultado, a qualidade das descrições oferecidas e sua adequação ao público-alvo têm se tornado questões de extrema relevância, levando pesquisadores a repensar certos parâmetros que vêm guiando a área. Um desses pontos a serem revistos é o visocentrismo que ainda permeia a atividade. ADs realizadas sob uma lógica visocêntrica relegam as especificidades de seu público-alvo primário para segundo plano, e buscam como objetivo precípuo o “devolver a visão” a pessoas com deficiência visual, ou seja, o conceder a essas pessoas uma percepção dos textos imagéticos que seja “equivalente” à dos videntes. A adoção dessa perspectiva se mostra contraproducente não só por prejudicar a qualidade dos roteiros elaborados, mas também por resgatar conceitos há muito superados, como o ideário do modelo médico de deficiência e a busca por equivalência em tradução. A presente tese, portanto, se constitui num trabalho cujo objetivo foi o de analisar narrativas de pessoas cegas para melhor entender o público-alvo da AD e encontrar subsídios para a construção de roteiros menos visocêntricos e mais próximos de suas necessidades e preferências. Utilizando o aporte dos Estudos da Tradução, dos Estudos sobre Deficiência, da Neurociência, de pesquisas de caráter histórico-cultural acerca da percepção humana, e dos Estudos Narrativos, foram analisadas duas autobiografias de autoria de pessoas com cegueira adquirida: Touching the Rock de John Hull, e Out of Darkness: A Memoir de Zoltan Torey. As obras foram estudadas a partir da metodologia da Pesquisa Narrativa, e os dados foram trabalhados através da análise temática nos moldes propostos por Braun e Clarke. O estudo das narrativas demonstrou, entre outros aspectos, a importância do correto ordenamento e sistematização das informações de um roteiro, a grande relevância da banda sonora das produções audiodescritas, e o benefício da associação da AD a experiências multissensoriais. Ao final do trabalho, esses e outros insights nascidos da análise das autobiografias foram condensados na forma de princípios que sintetizam as atitudes necessárias para tornar a AD menos visocêntrica e mais eficaz. As conclusões advindas deste estudo suscitam reflexões acerca da natureza e papel da AD, bem como apontam a necessidade da adoção de uma postura mais crítica e ética por parte dos profissionais da área. Pessoas com deficiência visual têm direito a uma interpretação própria e igualmente aceitável das imagens audiodescritas. O verdadeiro objetivo da AD, portanto, só pode ser alcançado quando o visocentrismo for substituído por uma atitude que, verdadeiramente, promova o respeito e o suporte necessário às diferenças, incluindo e celebrando a singularidade de cada ser humano.