DAS POSSIBILIDADES HETEROTÓPICAS PARA UMA EXPERIÊNCIA DE LIBERDADE – UM ESTUDO DO UNIVERSO FICCIONAL AMADIANO

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Texeira Sobrinho, Antonio Carlos Monteiro
Orientador(a): Alves, Ívia Iracema Duarte
Banca de defesa: Duarte, Eduardo de Assis, Magalhães, Carlos Augusto, Veiga, Benedito José de Araújo, Santos, Alvanita Almeida
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Letras
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26587
Resumo: Esta tese se configura como um estudo do universo ficcional de Jorge Amado, principalmente a partir de Gabriela, cravo e canela, de 1958. Constitui-se como um exercício de interpretação das formas com que o tema da liberdade se afigura encarnado em representações individuais e/ou coletivas impressas pelo autor. Assume-se que a literatura amadiana não busca apenas a denúncia de sistemas de opressão, mas também almeja encontrar alternativas que apontem para condições de vida não tocadas por uma lógica da submissão ou por uma dinâmica existencial repressiva. Nesta direção, procura-se mapear os sentidos concretos com que a ideia de liberdade se apresenta tangível na ficção de Amado. Ou seja, formas específicas de ser, estar e se relacionar com o mundo que, em função da série de posicionamentos de cada narrativa, são veiculadas como dotadas da capacidade de reverter quadros de subjugação em experiências possíveis de liberdade. A cartografia destas formas, que vem a ser um primeiro e necessário passo para a posterior observação dos conteúdos dissonantes que elas encenam, está amparada em um procedimento de leitura que funciona por contraste. Sua ênfase está radicada na percepção da diferença instaurada por modos de vida não hegemônicos, situados desde a margem, quando comparados ao conjunto de relações constitutivo da ordem (econômica, social, cultural, axiológica e epistêmica) dominante nas sociedades ocidentais – de resto, identificada como responsável pela subjugação de corpos e de espíritos, de indivíduos e de grupalidades. O mapeamento destas experiências outras segue não apenas pelas narrativas efetivamente publicadas por Jorge Amado. Busca-se igualmente observar projetos que se apresentavam como importantes para o autor, mas que não foram totalmente desenvolvidos. São os casos de A guerra dos santos, cujo plano de romance foi abandonado, e Boris, o Vermelho, que Jorge Amado não conseguiu finalizar. O estudo destas tramas é possível pelo cruzamento de cenas publicadas em revistas (A guerra dos santos) ou dos datiloscritos digitalizados (Boris) com informações coletadas em entrevistas concedidas pelo romancista ao longo da segunda metade do século XX. Com o intuito de elaborar leituras das modalizações diferenciais de vida contidas na ficção de Amado, optou-se pela noção de heterotopia, tal como desenvolvida por Michel Foucault (2001), como operador teórico. Isto porque a formulação foucaultiana, preocupada em focalizar a coexistência nada harmônica de espaços heterogêneos contíguos, permite discutir o modo como espacialidades não hegemônicas, as heterotopias, são e produzem forças de contestação às relações imperantes – “espaço” sendo aqui entendido não como um território delimitado por coordenadas geográficas, mas por redes de posicionamentos. A partir das análises das narrativas de Jorge Amado, é possível afirmar que as figurações de liberdade decorrem de um real heterotópico, não delineado pelo modelo capitalista-burguês judaico-cristão. Trata-se de um espaço não hierarquizado de convivência comunitária, no qual as relações humanas não se estabelecem pelo valor monetário nem operam pela exclusão das alteridades, e organizado por uma dinâmica existencial marcada pelo sentido de alegria-alacridade, que vem a ser um princípio estruturante das formas de ser, estar e de se relacionar oriundas do Candomblé.