Escutar o sonho da palavra deElicura Chihuailaf: ecos da história, pensamento e gestos de um nütram

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Chacón, Riacardo Horácio Piera lattes
Orientador(a): Costa, Suzane Lima lattes
Banca de defesa: Costa, Suzane Lima lattes, Souza, Carla Dameane Pereira de lattes, Azevedo, Luciene de Almeida lattes, Moreno, Luciana Sacramento lattes, Paraíso, Maria Hilda Baqueiro lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Pós-Graduação em Literatura e Cultura (PPGLITCULT) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/35171
Resumo: A presente tese tem por objetivo desenvolver um exercício de escuta da produção de palavra do poeta, pensador e ativista mapuche Elicura Chihuailaf. O texto toma como base para a conversação o livro Recado confidencial a los chilenos (1999; 2015), e o poemario De Sueños Azules y Contrasueños (1995; 2002). Em 2000, há dez anos do retorno à democracia no Chile, Chihuailaf publica o seu Recado, em um gesto que pretende denunciar o avanço de conglomerados nacionais e internacionais na construção de barragens e plantação de espécies exóticas, o qual tem redundado em uma paulatina desertificação do solo e na expropriação de terras ancestrais. Busca chamar atenção da opinião pública em um movimento escritural que pretende desestabilizar as assimetrias em que tem se pautado a vida social, política e cultural entre o povo chileno e o povo Mapuche, ao fazer evidente que a depredação movida por interesses econômicos tem deteriorado, também, as condições de vida da sociedade chilena em geral. A operação tem como fim último a aproximação entre os dois povos, baseada em uma revisão histórica e cultural, a qual deveria redundar na refundação de um Estado plurinacional. A gestualidade empregada na construção do Recado baseia-se, por sua vez, no modo de expressão ancestral do nütram, a conversação entendida como arte de escutar, retomado e atualizado em um fazer literário que o poeta nomeia de oralitura. O inespecífico traduzido na presença tanto de uma variedade de assuntos, modos de expressão e formas “proso-gráficas”, quanto do conhecimento do povo Mapuche, o kimün, aprendido da fonte ouvida à beira do fogão, são a matéria que desenha o nütram do poeta. Na procura pelo diálogo, a tese se constrói, então, como um exercício experimental de escrita, baseado em uma textualidade em que se justapõem traços do modo de expressão ancestral com formas convencionais da tese acadêmica ocidental. Nesse mesmo caminho, a tese toma como principal assunto a arte da palavra mapuche, sintetizadora do seu pensamento ancestral ressignificado por Chihuailaf, para revisar, por meio de uma mise-en-scène dessa diversidade acima aludida, a sua história, as formas e os campos de interesse pelos quais se manifesta na atualidade, e a maneira em que se constitui como a principal ferramenta para enfrentar o conflito denunciado pelo poeta no seu Recado. Dessa maneira, esta tese defende a ideia de que esse exercício de escuta pode revelar tanto possibilidades de questionamento do discurso oficial, como uma via para a superação de pressupostos enraizados, quanto outros caminhos para o exercício de crítica literária, a partir da ideia de “conversar com” em lugar de “analisar/discorrer sobre”. Assim, toda a conversação procura dialogar com as ideias, descrições, narrativas e poéticas encenadas por Chihuailaf, de maneira a fazer dessa voz o principal motor teórico da tese. O exercício de busca por outras formas de construir conhecimento na América Latina fundamenta-se, implicitamente, nas ideias de desobediência epistêmica, de Walter Mignolo (2010), descolonização e transmodernidade, de Enrique Dussel (1994, 2015), e práticas e discursos descolonizadores, de Silvia Rivera Cusicanqui (2010, 2018). A tese se apresenta, enfim, como uma forma singular de dialogar com a palavra mapuche do poeta, sem a pretensão de constituir-se em uma gestualidade aplicável a outros textos de autoria indígena ou ocidental.