A Alma Encantadora do Beco ou as crônicas do errante vagabundo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Fernandes, Fábio
Orientador(a): Thürler, Djalma
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Humanidades, Artes e Ciências
Programa de Pós-Graduação: Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/15831
Resumo: Leituras-emendas, escrita-performance, narrativas descontínuas, em fluxos. O presente trabalho se apresenta como uma narrativa, uma pesquisa em que a experimentação na escrita pretende explicitamente questionar e “desfazer” algumas normas que regem os modelos acadêmicos. Este texto é também uma performance, portanto, propositadamente artificial e encenada, protagonizada por um narrador que, além de questionar o lócus do pesquisador, acaba por realizar uma crítica à noção de sujeito ontológico, de ciência cartesiana. Em consonância com essa proposta, minha pesquisa-narrativa se debruça sobre um espetáculo artístico-cultural de rua, em Salvador (Beco da OFF, Barra), protagonizado por uma artista transformista da cidade de Salvador, Valerie O’harah: uma mistura de sofisticação, exagero, humor, magia. Lanço também um olhar sobre a noite soteropolitana e aqueles que circulam por ruas, becos e vielas, uma urbe cheia de contradições, encantos e conflitos. A persona a ser encarnada como narrador será a do flâneur, vagabundo e errante urbano relido pela poética baudelairiana e experenciada por João do Rio, Walter Benjamin, entre outros. Esse errante urbano se perde pela metrópole, entre os fluxos e devires dos encontros e possibilidades de uma noite quente e imprevisível: por um instante e um descuido, ele se depara e se encanta com o espetáculo e o contempla. Seria esse narrador uma drag de mim mesmo? Conseguiria, de fato, escapar das normas que incidem através e na linguagem? Portanto, em que medida subvertê-la seria uma política? A personagem protagonista desta minha narrativa não é o simulacro de algum ideário de modernidade burguesa das sociedades contemporâneas, pelo contrário. O errante urbano que se mistura a essa Soterópolis tem como local de fala a abjeção, a lama: ele é o Exu, o “bicho solto”, a bicha latino-americana inconforme que questiona a si, o mundo e as leis que o regem, mas pensando e experenciando a si e o local onde são produzidas as suas errâncias... com as suas cores, ritmos, tons, rasuras, peculiaridades. O meu encontro com Valerie e essa noite quente e arriscada é uma experiência de choque, de alteridade radical alimentada por desejos, estranhamentos, embriaguez e sensibilidades. Identidades que se fragmentam e também se complementam na multidão misteriosa e soturna da cidade de Salvador.