Vida e filme: uma autorreflexão sobre a "mise-en-scène do encontro" no documentário A vida de São Jorge

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Bittencourt, Max Freitas lattes
Orientador(a): Matos, Edilene Dias
Banca de defesa: Rocha, Ana Luiza Carvalho da, Martins, Silvia Aguiar Carneiro, Serafim, José Francisco, Boccia, Leonardo Vicenzo, Matos, Edilene Dias
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Poscultura) 
Departamento: Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos - IHAC
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/39202
Resumo: Esta tese busca apresentar uma autorreflexão sobre a conformação da mise-en-scène no documentário A vida de São Jorge, realizado por este pesquisador-documentarista, com a intenção de descrever, através do exame de suas imagens-câmera em movimento, como os encontros vividos em situação de tomada, ao longo do percurso de filmagens, se efetuaram no filme. Através do exame do corpo-mídia que se exibe e se inventa para a câmera, de suas interações, atitudes e posturas, o intuito é fazer emergir a singularidade do encontro vivido com o Outro, no “jogo” que se estabeleceu nos instantes de tomada, recorrendo a uma abordagem descritiva de cunho etnocenológico das ações e expressões dos sujeitos da cena, tanto o documentarista quanto os sujeitos filmados, no plano das imagens. Partindo dos estudos de teóricos como Jean-Louis Comolli (2008), sobre a relação entre cinema e encontro, Claudine de France (1998) e Deleuze (2005), sobre profilmia e auto-mise-en-scène, Armindo Bião (2007) e Jean-Marie Pradier (1999), a respeito dos ritos espetaculares, e Paul Zumthor (2005; 2007; 2010), sobre a vocalidade da performance, busca-se descrever “o outro filmado” em suas maneiras de fabular e de se oferecer para a câmera, e para o documentarista, na circunstância de tomada, pondo em relevo, neste caso, as práticas corporais espetaculares dos médiuns brincantes do Terreiro de São Jorge e sua relação, no plano das imagens filmadas, com a arte, o ritual e o sagrado. Este pesquisador buscou observar, no processo de montagem das imagens, o seu próprio trabalho como documentarista, tanto no plano da imagem como no seu antecampo, através dos processos de produção de sentido operados durante a realização do filme, intencionalmente ou não, buscando documentar o embate “entre aquele que filma e aquele que é filmado”; ação e expressão na tomada, este seria, para Fernão Pessoa Ramos (2008), o âmago da encenação documentária, denominado aqui, neste trabalho, de “mise en scène do encontro”. As imagens filmadas representam vestígios. Ao produzir os registros e depois organizá-los na montagem, o documentário acabou incidindo na construção de uma memória do ritual artístico e espiritual daquele espaço-território já perdido, pois, com a morte da ialorixá da Casa, em 2020, o festejo deixou de existir. Memória filmada, A vida de São Jorge apresenta ao espectador uma cultura de resistência e seus símbolos através das imagens dos excluídos e seus discursos – “comportamentos insubstituíveis e que não poderão ser reproduzidos” (RAMOS, 2016, p. 8), a não ser pela reprodutibilidade técnica inerente à imagem filmada – com a intenção de contribuir no combate ao desaparecimento das existências periféricas dos espaços de poder, imposto pelo discurso hegemônico, colocando-as como protagonistas de suas próprias histórias.