As ciências desenvolvimentais e o desafio da complexidade epistemológica: uma análise da teoria do apego de Bowlby

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Pires, Marcelo da Silva Alves
Orientador(a): Lordelo, Eulina da Rocha
Banca de defesa: Lordelo, Lia da Rocha, Bastos, Antônio Virgílio Bittencourt, Dazzani, Maria Virgínia Machado, Bichara, Ilka Dias
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/23917
Resumo: A tarefa de descrever e explicar fenômenos desenvolvimentais dependentes de fontes de influência plurais nos confronta com a questão epistêmico-metodológica da complexidade. Como todo processo desenvolvimental, a teoria do apego, proposta e desenvolvida por Bowlby e Ainsworth, é reconhecida por sua natureza complexa. Mas as pesquisas recentes ainda parecem prestar pouca atenção aos processos interativos entre os diferentes fatores de relevância conhecida. Desse modo, chegamos à pergunta fundamental desse estudo: em que medida o consenso teórico em torno da complexidade do processo desenvolvimental do apego, especialmente no que se refere ao aspecto relativo à interação entre diferentes fontes de influências conhecidas, encontra contrapartida e suporte na pesquisa empírica? O objetivo geral deste trabalho pode ser, então, assim descrito: descrever e analisar se, e de que forma (a partir de que estratégias, recursos e ferramentas metodológicas), a pesquisa recente (2005-2014) no contexto da teoria do apego tem contribuído para o avanço quanto ao entendimento da formação e desenvolvimento do apego enquanto fenômeno complexo. Para tanto, discutimos a questão da complexidade referente aos processos desenvolvimentais, incluindo uma breve contextualização da teoria da complexidade, da dicotomia nature x nurture, de algumas importantes contribuições sobre a complexidade do desenvolvimento e de alguns dos desafios metodológicos presentes. E buscamos identificar e descrever como a teoria do apego incorpora a complexidade relativa a seu objeto de estudo. A análise da produção empírica recente foi realizada a partir de revisão sistemática da literatura empírica recente em teoria do apego. Foram selecionados 336 textos completos de artigos científicos nas bases PsycInfo e Scielo. A análise foi realizada considerando as seguintes categorias: (1) número de fontes de influência, ou variáveis, investigadas; (2) presença de debates interdisciplinares e tentativa de integração de múltiplos domínios; (3) investigação de fatores intervenientes; (4) uso de análise de regressão múltipla e modelagem de equações estruturais; (5) uso de desenhos longitudinais e transculturais; (6) presença de sugestões de que estudos futuros avancem em algum dos critérios aqui associados à complexidade. Apesar de dois terços dos artigos incluírem, pelo menos, uma terceira variável, apenas 38,7% dos mesmos envolvem alguma investigação de relações intervenientes, e a mesma proporção foi encontrada para o uso de estatística complexa, como análises de regressão múltipla ou modelagem por equações estruturais. Mais de 60% do total de artigos analisados se limitou à análise de relações correlacionais e preditivas lineares simples. Apesar de muitos estudos indicarem a necessidade de que próximas investigações invistam em desenhos mais complexos, é baixo o número de estudos que conseguem ir além de modelos explicativos lineares. Apresentamos estudos que investigam múltiplas variáveis, que utilizam de métodos complexos de análise e que buscam um diálogo produtivo envolvendo fatores de diferentes níveis de análise. Mas o estudo de relações lineares entre pares de variáveis ainda é prevalente. A pesquisa empírica recente, então, nos mostra que, apesar de toda dificuldade metodológica envolvida no desafio de investigar a complexidade dos processos desenvolvimentais, este é um desafio possível, não ignorado, mas que ainda necessita de maiores investimentos.