O papel dos valores na proposição e aceitação de teorias e modelos nas ciências biológicas: uma contribuição desde a epistemologia.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Brito, Breno Pascal de Lacerda
Orientador(a): El-Hani, Charbel Niño
Banca de defesa: Lacey, Hugh, Carvalho, Eros Moreira de, Santos, Frederik Moreira dos, Silva Filho, Waldomiro da, Nunes Neto, Nei de Freitas, El-Hani, Charbel Niño
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto de Física
Programa de Pós-Graduação: Ensino, Filosofia e História das Ciências
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/31291
Resumo: Nas últimas décadas tem ocorrido um aumento da importância do debate do papel dos valores epistêmicos e não-epistêmicos nas Ciências Biológicas, principalmente devido a uma ampliação dos fenômenos que estas ciências se propõem a estudar e ao aumento de aplicações nas quais conhecimentos biológicos são requeridos, e, por vezes, à relação entre os dois casos, como por exemplo estudos de engenharia genética, ou de conservação. Com essas novas frentes de ação das Ciências Biológicas, a necessidade de se entender melhor as práticas dos biologos, qua cientistas, tem se tornado cada vez maior, inclusive no que diz respeito à escolha de suas Teorias e Modelos, foco do presente trabalho. Isso porque há uma necessidade cada vez maior nas Ciências Biológicas de que se compreenda qual papel os valores desempenham nas práticas envolvidas na proposição e aceitação de modelos. No debate sobre o papel dos valores na prática cientifica, com um foco na aceitação de teorias, há duas possíveis posições: uma que apresenta modelos que sustentam que apenas valores epistêmicos têm papel nessas práticas; e outra com modelos que defendem que tanto valores epistêmicos e não-epistêmicos têm um papel na prática científica. Nesta tese, consideramos que esta segunda posição apresenta uma maior capacidade de explicar as práticas científicas, explicação cada vez mais pertinenete às Ciências Biológicas. Entre os modelos dessa posição, podemos destacar o modelo do Papel dos Valores na Ciência (RVS), de Hugh Lacey, de acordo com o qual a prática científica pode ser entendida considerando-se momentos logicamente distintos, nos quais valores diferentes desempenham papeis específicos, confome o objetivo de cada um dos momentos identificados no modelo. O modelo RVS apresenta uma capacidade de explicar uma grande gama de práticas das Ciências Biológicas, e consegue superar críticas que outros modelos não conseguem enfrentar com igual sucesso. Podemos destacar entre essas críticas a confusão dos momentos de aplicação e aceitação das Teorias T ou Modelos M e como e quais valores atuam nesses momentos distintos, podendo assim explicitar o papel de cada tipo de valor (epistêmico e não-epistêmico). Outro ponto a considerar diz respeito à capacidade do modelo RVS de conseguir articular explicações para práticas científicas tendo na devida conta tanto valores epistêmicos quanto valores não-epistêmicos. Porém, o RVS, como os outros modelos que buscam explicar o papel dos valores nas ciências, ao tratar do momento que analisa como se dá a seleção das Teorias e Modelos científicos foca apenas na expressão dos valores epistêmicos em T e/ou M. Porém, essa postura não consegue ser traduzida em critérios claros do porquê de T e/ou M ter sido selecionada, poís não é empiricamente viável comparar a expressão dos valores expressas em Teorias e/ou Modelos rivais, seja pela falta de um metodo para dizer qual T e/ou M tem o conjunto mais alto de valores ou como comparar valores diferentes com expressão diferentes de seu grau. Outra crítica possível ao RVS é sobre o deslocamento da análise da aceitação em prol das atitudes de Adotar, Endossar e Sustentar. Ao fazê-lo o modelo limita as situações onde os valores epistêmicos tem um papel legitimo a uma quantidade bastante limitada de práticas científicas nas Ciências Biológicas. Para resolver esse problema, propomos nesta tese que se analise a seleção de T ou/e M da perspectiva da Epistemologia das Virtudes. Assim, defendemos que uma boa teoria ou modelo seria aquela escolhida por um Agente Epistêmico Competente. Para ser considerado competente, o Agente deve ser capaz de utilizar sua habilidade reflexiva para acessar as razões que o levam a aceitar T e/ou M, e conseguir dessa forma articulá-las racionalmente com os valores epistêmicos de uma comunidade epistêmica da qual ele faz parte. Dessa forma, um Agente Epistêmico virtuoso, ao realizar uma performance fruto de uma habilidade competente, estará gerando um maior entendimento sobre o fenômeno que T aborda e indicando que ela é, quando comparada a outras, a melhor Teoria ou Modelo, com base nas informações às quais o agente tem acesso e às razões que utiliza reflexivamente, devendo assim ser aceita. Defendemos, ainda, que esse Agente deve agir de acordo com o que definimos como um Princípio de Precaução Epistêmica ao avaliar T e/ou M, pois dessa maneira ele poderá ser mais zeloso quanto aos possíveis riscos epistêmicos associados à aceitação de T e/ou M e, assim, poderá ser um agente mais crítico e responsável no processo de aceitação de T e/ou M. O Princípio de Precaução Epistêmica determina que um Agente deva agir de acordo com o princípio que determina que devemos agir de forma cuidadosa ao tomarmos decisões sobre as atitudes epistêmicas cujas consequências não conhecemos (ou controlamos), especialmente quando estas consequências podem ser inesperadas, graves e/ou até mesmo irreversíveis Dito isso, que o modelo RVS deve ser reinterpretado à luz da ideia de um Agente Epistêmico Competente, possibilitando então que o RVS supere suas criticas. Com base nisso propormos uma nova proposta de Atitude cognitva associada ao momento de aceitação de T e/ou M, denominada Avaliação Reflexiva, de acordo a qual um Agente Epistêmico Competente deve, ao avaliar T e/ou M, fazer uso de sua reflexão para melhor entendimento de T e/ou M e articular suas razões de acordo com os valores epistêmicos de uma comunidade epistêmica da qual ele faça parte, possivelmente composta de pares epistêmicos, que tenham aceitos como relevantes um conjunto de valores, que promova o debate e o dissenso racional e que favorecem aos membros do grupo o acesso às afirmações científicas que o grupo proponha e aceite. Ao assumir uma Atitude Reflexiva, o Agente é capaz então de julgar de forma confiável se aceita, se rejeita ou se suspende seu juízo sobre o valor de T e/ou M, a partir de uma avaliação do melhor entendimento de T/ou M.