Programa de estimulação das funções executivas: contribuições para o desenvolvimento cognitivo de crianças em situação de vulnerabilidade e expostas ao manganês

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Carvalho, Chrissie Ferreira de
Orientador(a): Abreu, José Neander Silva
Banca de defesa: Alvarenga, Patrícia, Santos, Letícia Marques dos, Mello, Claúdia Berlim de, Dias, Natália Martins
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/25658
Resumo: Estudos tem evidenciado que a participação em programas de estimulação das Funções Executivas (FE) beneficiam principalmente crianças em situação de vulnerabilidade e baixas FE. As pesquisas básicas no campo das neurociências e da neuropsicologia tem contribuído para o melhor entendimento em relação ao desenvolvimento cognitivo e socioemocional e a influência de fatores de risco. As FE possuem um papel crucial no processo de aprendizado, autorregulação e sucesso escolar. Comprometimento neuropsicológico tem sido retratado em crianças cronicamente expostas ao manganês (Mn), configurando assim esse grupo com alto grau de vulnerabilidade. O Mn é um nutriente essencial ao organismo, no entanto em altos níveis tem potencial neurotóxico, prejudicando o desenvolvimento das funções cognitivas principalmente de crianças e adolescentes que são mais susceptíveis aos efeitos deletérios da exposição crônica. Diante desse contexto, a presente tese teve como objetivo caracterizar déficits cognitivos associados à exposição ao Mn em crianças de 7-12 anos de idade, e a partir disso desenvolver e avaliar a eficácia de um programa de estimulação com foco na promoção de FE para escolares do 2o ao 5o ano nesse contexto de exposição. Para tanto, desenvolveu-se quatro estudos empíricos. No primeiro estudo participaram 70 crianças expostas ambientalmente ao Mn e 127 crianças sem histórico de exposição ao Mn. Os residentes estão vulneráveis à exposição ao Mn por emissões atmosféricas provenientes da atividade industrial de uma fábrica ligas de ferro-manganês na região de Simões-Filho, Bahia. Os achados indicaram que mesmo controlando para possíveis confundidores, as crianças expostas ao Mn comparadas aos controles apresentaram menor desempenho em fluência verbal, memória e aprendizagem verbal, controle inibitório e flexibilidade cognitiva. Além disso, foram encontradas associações entre os níveis de Mn no cabelo das crianças com o desempenho em memória verbal e maior incidência de comportamentos hiperativos, sendo essas associações modificados pelo sexo da criança. Por sua vez, o estudo empírico II buscou descrever as etapas do desenvolvimento e as evidências de validade de conteúdo do Programa de Estimulação das Funções Executivas Heróis da Mente (PHM). O PHM é composto de seis histórias em quadrinhos e de quatro módulos para a estimulação das FE. Utilizou-se o Índice de Validade de Conteúdo (ICV) para determinar o nível de concordância entre os quatro juízes especialistas para cada atividade, módulo e do programa como um todo. Os resultados indicaram alto grau de concordância entre os juízes tanto na análise global do programa (ICV Global de 0,94), quanto de suas atividades e módulos. De acordo com os critérios analisados foi possível verificar a adequação ao contexto, idade, compreensão, coerência entre o objetivo proposto e o engajamento das FE, permitindo assim os aprimoramentos necessários das atividades para a promoção das FE. O estudo empírico III objetivou avaliar a eficácia da implementação do PHM em crianças expostas ambientalmente ao Mn. Foi realizado um estudo com desenho pré/pós-teste com três grupos de crianças com idades entre 7 e 12 anos que estudam 3 escolas públicas da Bahia. Participaram crianças expostas cronicamente ao Mn, residentes no município de Simões Filho – Bahia, mesma região do estudo empírico I, divididas em dois grupos: Grupo Controle que continuou com suas atividades regulares (GC-Mn) e grupo experimental que participou do PHM (GE-Mn). Além disso, o PHM foi implementado em um grupo de crianças com desenvolvimento típico e sem histórico de exposição ao Mn (GE-T). O PHM foi implementado por professores em sala de aula pelo período de 4 meses. Os resultados mostraram que o GE-Mn apresentou ganhos mais expressivos e com maior tamanho de efeito em memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, fluência verbal fonêmica e houve efeito de transferência para outras habilidades cognitivas e acadêmicas como atenção visual e habilidades de escrita. O GC-Mn apesar de ter apresentado ganhos significativos em memória de trabalho verbal e fluência verbal, esses ganhos obtiveram um tamanho de efeito menor que o GE-Mn, além disso o grupo controle foi o único que reduziu de forma significativa os escores em inteligência fluida. Já o GE-T foi o grupo que apresentou melhores FE na linha base e demostrou melhora significativa em tomada de decisão e em velocidade de processamento em tarefas que demandam controle inibitório e flexibilidade cognitiva. Por fim, o estudo empírico IV buscou analisar uma série de 8 casos de crianças que participaram dos estudos empírico I e III, sendo 4 pertencentes ao GC-Mn e 4 ao GE-Mn. Cada caso foi analisado individualmente nos três momentos de avaliação (T1, T2 e T3), totalizando um intervalo de quatro anos. O PHM ocorreu entre T2 e T3. Os dados evidenciaram que o perfil neuropsicológico analisado ao longo dos anos demonstrou, em parte dos casos, um decaimento dos escores Z nos testes de inteligência, memória de trabalho verbal e fluência verbal semântica. A análise dos casos revelou que a maioria das crianças do grupo controle mostrou maior tendência a terem perdas cognitivas ao longo dos anos. Já as crianças que participaram do PHM apresentaram mais ganhos cognitivos que perdas principalmente entre T2 e T3, mesmo esse grupo tendo apresentado níveis de Mn superior ao grupo controle e perfil cognitivo mais comprometido em T1. Em conjunto, os achados demonstraram que o programa de estimulação foi capaz de trazer benefícios em alguns aspectos das FE, representando uma diminuição entre as diferenças no desenvolvimento neuropsicológico entre o grupo exposto ao Mn e as crianças sem histórico de exposição que participaram do PHM. Este estudo apresenta dados relevantes em termos de políticas públicas, oferendo um programa de baixo custo para ser implementado por professores podendo ser facilmente ser inserido no currículo escolar.