Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2017 |
Autor(a) principal: |
Hirschle, Ana Lucia Teixeira |
Orientador(a): |
Gondim, Sônia Maria Guedes |
Banca de defesa: |
Pereira, Cícero Roberto,
Carlotto, Mary Sandra,
Fernandes, Sônia Regina Pereira,
Techio, Elza Maria |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/24649
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Resumo: |
A pesquisa sobre estresse no trabalho esteve largamente direcionada para analisar os fatores estressores que causam reações no organismo, resultando em transtornos físicos e psicológicos. Apoiadas no movimento da Psicologia Positiva, as pesquisas começaram a ser redirecionadas para o gerenciamento dos afetos para enfrentar as situações de tensão no ambiente laboral. O objetivo central dos estudos realizados nesta tese foi o de ampliar a compreensão sobre as inter-relações entre estresse percebido, regulação emocional, e bem-estar no contexto organizacional da indústria, buscando evidências teóricas e empíricas. A principal suposição é a de que as estratégias utilizadas para regular as emoções podem facilitar a adaptação aos estressores percebidos no trabalho, minimizando o estresse e seus impactos negativos no bem-estar. Foram desenvolvidos três estudos, um de revisão de literatura e dois empíricos, de caráter quantitativo e de corte transversal. O estudo teórico pretendeu explorar e compreender as relações existentes entre estresse e bem-estar no trabalho, e reuniu evidências de quais variáveis pessoais e/ou ambientais possuem efeitos protetores para o bem-estar dos trabalhadores, com impactos positivos na sua saúde física, mental e social. Foi realizada uma revisão sistemática da literatura científica nos últimos 11 anos (2006 a 2016), nas bases de dados de Ebsco, Lilacs, SciELO, Google acadêmico, PubMed, e em seis revistas do Annual Reviews. Foram analisados cinquenta artigos nacionais e internacionais (estudos empíricos, de revisão e meta-análise), que relacionavam os construtos. Os resultados apontaram que os fatores relacionados ao trabalho, os recursos pessoais como resiliência, autoeficácia, competências emocionais, desapego psicológico, a interface trabalho-vida pessoal e os fatores no nível de grupos têm efeitos no bem-estar. A percepção de suporte social de pares e da chefia ao lado da autonomia no trabalho, atenuam o impacto negativo do estresse sobre o bem-estar. A revisão trouxe um panorama geral dos estudos nacionais e internacionais que relacionam estresse e bem-estar no trabalho, destacando preditores, moderadores e mediadores desta relação, contribuindo para nortear novos estudos e pesquisas no campo. Como contribuição prática, os resultados encontrados são relevantes e podem subsidiar políticas e programas de melhoria do bem-estar e de redução do estresse dos trabalhadores. Para a construção dos estudos empíricos foram coletados dados em uma amostra de 480 trabalhadores da indústria, de forma presencial. Os participantes responderam a um questionário contendo a escala de estresse no trabalho, a medida de regulação emocional adaptada para o contexto de trabalho, a escala de bem-estar no trabalho, e questões sociodemográficas e profissionais. O segundo estudo objetivou desenvolver um instrumento de regulação emocional para o contexto de trabalho (RE-Trab). A medida foi uma adaptação do ERP-Br (Gondim et al., 2015), versão reduzida do ERP-R de Nelis et al. (2011), que avalia dois tipos de regulação - das emoções positivas (Regulação Ascendente - RA) e das emoções negativas (Regulação Descendente - RD) - a partir de situações do cotidiano que eliciam emoções que demandam regulação. Durante a adaptação, foram criados cenários vivenciados no âmbito laboral e opções de estratégias de regulação correspondentes, submetidos à análise teórica dos itens (análise semântica e de construto por meio de juízes), e às análises estatísticas na amostra de trabalhadores, para obter evidências de validade. A medida RE-Trab foi submetida às análises fatorial exploratória (SPSS) e confirmatória mediante modelagem de equações estruturais (AMOS) e apresentou qualidades psicométricas satisfatórias. O modelo confirmado foi o de um fator geral latente, a Regulação Emocional no Trabalho (RET), que se manifesta nos quatro fatores de primeira ordem, que correspondem às estratégias de regulação para lidar com cenários do ambiente de trabalho: adaptativas e desadaptativas (cenários positivos), funcionais e disfuncionais (cenários negativos). O instrumento oferece avanços em relação ao ERP-Br (Gondim et al., 2015) por medir o processo regulatório em contexto específico. Pode ser usado como instrumento de diagnóstico de prevalência de uso de estratégias por trabalhadores, contribuindo no desenvolvimento de programas que os auxiliem no manejo das emoções de maneira mais eficaz e produtiva. O terceiro estudo teve como foco testar a moderação de estratégias de regulação emocional ascendente e descendente nas relações entre estresse percebido e bem-estar no trabalho (BET), levando em conta o contexto da indústria e baseando-se no modelo proposto por Nelis et al. (2011). Considerando a estrutura confirmada no Estudo 2, foram desenvolvidos dois modelos para testar as hipóteses de predição e moderação: um de Cenários Positivos (CP), contemplando os efeitos de interação entre estresse e as estratégias adaptativas e desadaptativas no BET e o efeito direto dessas variáveis no BET; e outro de Cenários Negativos (CN), incluindo as estratégias funcionais e disfuncionais. Foram encontradas associações entre o estresse percebido, as estratégias de RET e BET. O estresse foi preditor negativo de BET, e as estratégias adaptativas (Regulação Ascendente) e funcionais (Regulação Descendente) foram preditoras positivas de BET. Os resultados ainda sugerem que a percepção de estresse elevada está associada a maior uso de estratégias de regulação emocional desadaptativas e disfuncionais. Uma das conclusões é que o controle do nível de estresse no ambiente laboral pode ajudar o trabalhador a preservar o bem-estar no trabalho fazendo melhor uso de seus processos regulatórios. Em síntese, as principais contribuições da tese são: (a) servir de referência e nortear novas pesquisas no campo estudado; (b) disponibilizar uma medida de regulação emocional validada para o contexto de trabalho brasileiro (RE-Trab); (c) trazer evidências empíricas de associações entre estresse percebido, regulação emocional e bem-estar em uma amostra de trabalhadores da indústria; e (d) oferecer indícios sobre o papel diferenciado da regulação emocional no contexto de trabalho, o que pode gerar insumos para subsidiar políticas e ações voltadas para melhorar as condições do ambiente organizacional, para além de atuar somente no nível do indivíduo, fortalecendo seus recursos cognitivos e emocionais para obter melhor ajuste pessoa-ambiente. |