Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2016 |
Autor(a) principal: |
Moreira, Jsinélia Chaves Moreira |
Orientador(a): |
Souza, Lívia Maria Natália de |
Banca de defesa: |
Souza, Arivaldo Sacramento de |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Instituto de Letras
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26639
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Resumo: |
A partir de uma voz dissonante, propus um estudo da construção poética de Gilka Machado, a mulher-serpente-poema, tendo em vista o contexto social, político e cultural do final do século XIX e início do século XX. É um agenciamento de leitura fragmentada, borrada, móvel, mas que busca, através da leitura de poemas, entrevistas, depoimentos, textos de crítica e teoria, tecer um itinerário afetivo social dos arquivos de uma memória da primeira mulher nua da literatura brasileira. Para tanto, decidi dividir essa discussão em três partes, que se cruzam: na primeira, relacionei o processo de apagamento e silenciamento em torno de sua produção poética, com a questão da identificação étnico-racial, tendo por base o entrecruzamento da questão de gênero, raça e classe, dadas as duas hierarquias de Gilka: mulher e negra; em seguida, na segunda, busquei, através da subjetividade, traçar um panorama da lírica, assim como das grandes forças que vigoraram na época, aportando a dificuldade de classificação e fixação de correntes literárias, já que estou lindando com uma voz não autorizada e dissidente; e, por fim, através do corpopalavra ou corpo escrita, construí uma leitura sobre esse espaço de possibilidades enunciativas, através de uma discussão sobre o corpo e o erotismo, como uma recorrência no fazer poético gilkiano, uma potência, uma forma de se posicionar discursivamente no mundo, principalmente, diante das críticas às suas obras. Além disso, nesse último capítulo, faço também uma análise dos principais periódicos e o número de ocorrências com o nome de Gilka Machado, a partir de um recorte temporal, 1910 a 1939, período em que publica os seus primeiros livros: Crystaes Partidos (1915), Estados de Alma (1917), Mulher Nua (1922), Meu Glorioso Pecado (1928) e Sublimação (1938). Assim, abordei, através dos fragmentos, o grande desejo de escrever de Gilka Machado, em uma época, em que era comum escutar que isso não lhe cabia, faltava-lhe o ofício, o tato, a habilidade, o estudo, em contraponto, a presença de vozes autorizadas (homens, brancos, de classe média, moradores do Rio de Janeiro e São Paulo, com obras publicadas por grandes editoras, dentre outras características). Com isso, aparecem os ruídos e o desconforto, a chancela às suas obras, desde que surgem, por uma espécie de tensão, evidenciada, sobretudo, devido à necessidade de recompor e de reelaborar outros discursos já enraizados na tradição literária, sobre o feminino, o corpo, o erotismo, uma postura de assumir a construção de sua própria imagem e identidade enquanto mulher e negra. Dessa forma, percebi que a construção poética gilkiana é resultado de sua insurgência à docilidade e ao aprisionamento do corpo da mulher, como também uma estratégia para colocar em suspenso a denúncia de como o desejo das mulheres precisava e precisa ser controlado, diante de uma sociedade racista, sexista e classista. Assim, Gilka Machado é esse “corpo estranho” que prefere a valorização ostensiva do corpo feminino, não apenas como um objeto, mas também como um “objeto” de teorização do intelecto feminino, segundo outras possibilidades do existir. |