À roda da eternidade: o elogio da morte e outros discursos sobre finitude na oratória de Antônio Vieira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Silva, Felipe Lima da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Letras
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/16730
Resumo: Esta tese centra-se no exame da sermonística de Antônio Vieira, considerando-a um retrato textual da temática da morte, uma espécie de matriz discursiva da parenética luso-brasileira imersa na pastoral católica e, por isso, fundamentada no medo e na culpa, amplamente disseminados no contexto tridentino da Colônia e da Europa. Especificamente, buscou-se analisar como o tema da ars moriendi, reconfiguradamente, poderia ser considerado o epicentro da oratória vieiriana, cuja finalidade seria conduzir o fiel à boa morte. A contrapelo da ideia de “elogio” aplicada engenhosamente no texto de Erasmo de Roterdã sobre a loucura, aqui o elogio tem o sentido de revelação da importância da “arte de morrer”, um encômio desse tópos que, no caso da obra vieiriana, sugeriria uma abertura para uma multifacetada oratória justificada pelos interesses teológico-políticos de seu tempo, porém fundamentada no repertório monumental das tradições clássicas. O propósito deste trabalho fixa-se nas cenas configuradoras do discurso do memento mori na obra de Vieira – cenas das pregações à corte, a indígenas e a africanos escravizados – que assimila e reatualiza uma tradição discursiva fúnebre, uma didática da morte constituída pelos preceitos retóricos, poéticos e éticos que remontam à tradição pagã clássica e às teorias dogmáticas da Patrística e da Escolástica, divulgadas, teorizadas e recuperadas nas malhas do pensamento teológico e filosófico do tempo histórico seiscentista. Em paralelo a isso, porém sem abrir mão de fazer convergir esse fluxo de questões, esta tese comentará, finalmente, a diferença, nas pregações que o inaciano português realiza para e sobre os seus diversificados públicos (letrados, colonos, indígenas, africanos), quando adapta ao decoro circunstancial, no tom do discurso, modulando a palavra à Palavra, a intenção à missão, o meio ao fim, para produzir uma ajustada pregação sobre a morte na qual prevalece o princípio de adequação a cada auditório mediante um contato perspectivado com o que se entende por verdade, vida e morte, à época. Em síntese, este trabalho orienta-se pelas linhas teóricas que pensam arqueologicamente os pressupostos retórico-poéticos, teorias as quais buscam compreender o tempo em foco a partir dos seus próprios instrumentos de produção discursiva, absolutamente dominados por Vieira. Pregador icônico de seu tempo, o inaciano em foco pregou a morte ajustada às casualidades políticas e teológicas, concedendo, repreendendo e convencendo a quem fosse necessário, como manda o decorum, para manter estável a natural desigualdade que marca o histórico das relações assimétricas constituidoras da sociedade do Antigo Regime português