“Que tal se os loucos tiverem razão?”: um olhar psicanalítico sobre o messianismo
Ano de defesa: | 2019 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Psicologia Brasil UERJ Programa de Pós-Graduação em Psicanálise |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/17700 |
Resumo: | O desinvestimento público nos dispositivos de saúde mental instalados a partir da Reforma Psiquiátrica da virada do século parece acompanhar o crescimento de instituições religiosas como as Comunidades Terapêuticas. Estas, teoricamente, visam ao tratamento dos usuários de drogas através da internação mas, na prática, tornaram-se depósitos dos membros do que Foucault (1961) chamou de “mundo uniforme do desatino”. Repetição do que ocorreu há quatro séculos nos países europeus tratados por Foucault? A realização de parte do doutorado na Alemanha, país onde o messianismo cumpriu um importante papel na emergência da Guerra dos Camponeses (1526) e o movimento dos Anabatistas (1533) durante o final da Idade Média, foi importante para que eu pudesse estabelecer paralelos com o messianismo que, no Brasil, inspirou diversas revoltas. Recorro ao tema do messianismo que, segundo o sociólogo da religião Lísias Nogueira Negrão (2001), refere-se “à crença em um salvador, o próprio Deus ou seu emissário, e à expectativa de sua chegada, que porá fim à ordem presente, tida como iníqua ou opressiva, e instaurará uma nova era de virtude e justiça”. A leitura que aqui realizo é um esforço para lançar luz, pela via da psicanálise, sobre a imiscuição na saúde mental do messianismo no Brasil, o advento do pentecostalismo e do neopentecostalismo. Para melhor entender o contexto em que se deram aqueles movimentos no passado, parti da hipótese de que a queda de referências externas que cumpriam a função de S1 no discurso do mestre, colaborou para a emergência do discurso profético de líderes messiânicos, como também ocorreu com Antônio Conselheiro que rogava pelo retorno do regime monárquico pelas mãos da princesa Isabel, sendo aplaudido por uma massa de homens recém-libertos da escravidão, mas sem condições sociais de exercerem o papel de cidadãos. Durante a regência de Pedro II, que fundou o hospício que levava seu nome, a divisão que então era estabelecida entre o saber médico e o religioso foi dando lugar à preponderância do discurso científico. A partir de alguns textos elaborados pela FIOCRUZ, pude verificar que isso lastreou a passagem do inicial tratamento da loucura, para a incorporação da prática eugênica importada da psiquiatria alemã e a criação das fábricas de morte, o “Holocausto brasileiro”. Minha hipótese é a de que a crescente intolerância em relação ao desatino em nossa sociedade, intolerância essa que conduziu ao recente aumento das políticas de contenção de usuários de drogas e de sujeitos psicóticos em Comunidades Terapêuticas, difere do modo de reação de há 400 anos, que se deu pela valorização da razão nos países protestantes. Com Lacan, examino uma progressão ao Pior. Ao mesmo tempo, o colorido mundo do desatino brasileiro denuncia, através do discurso da histérica, a monocromática vida imposta pelos líderes messiânicos àqueles que suplicam por mestres. Afinal, como aponta Lacan (1946), se a loucura é a mais fiel companheira da liberdade, por que os loucos haveriam de trocar tão boa companhia pelo cabresto de líderes tão canalhas?! |