Entre o medo e a esperança: um estudo sobre os usos e sentidos do treinamento cerebral no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Lisboa, Felipe Stephan
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/20123
Resumo: O presente trabalho tem como objeto de análise os usos e sentidos das práticas de treinamento cerebral na realidade brasileira. Este tipo de treinamento, também chamado de treinamento cognitivo e ginástica cerebral, diz respeito à prática guiada de determinados exercícios e jogos com o objetivo de preservar ou melhorar as habilidades cognitivas e/ou a cognição como um todo. O objetivo central deste trabalho é mapear e analisar os sentidos atribuídos pelas empresas de treinamento cerebral e seus clientes às próprias atividades de treinamento cerebral. Para atingir tal objetivo realizamos a análise de conteúdo de dois conjuntos de dados: a) informações textuais dos sites oficiais das três franquias de treinamento cerebral existentes no Brasil (Supera, Super Cérebro e Ginástica do Cérebro) assim como das principais plataformas virtuais brasileiras (Supera Online, NeuroForma, Afinando o Cérebro e Mente Turbinada); b) transcrições de entrevistas semiestruturadas com dez clientes destas empresas, com idades entre 22 e 87 anos, e que praticavam regulamente tais atividades. Após analisarmos o conteúdo dos sites e das entrevistas pudemos observar que os sentidos do treinamento cerebral se relacionam, para os clientes, a uma série de medos e esperanças – e também à busca por diversão e sociabilidade. Dentre os medos destaca-se aquele relacionado à possibilidade de desenvolver a doença de Alzheimer ou algum outro quadro demencial que prejudique suas funções cognitivas e os levem a perder a autonomia e se tornarem dependentes de outras pessoas. Por outro lado, a busca por atividades de treinamento cerebral se relaciona também à esperança de reverter ou interromper o “declínio cognitivo” e de evitar, assim, o desenvolvimento de uma demência. As empresas, por sua vez, fomentam em seus clientes e potenciais clientes, através dos seus sites publicitários, diferentes formas de esperança, em especial a esperança de um futuro com capacidade cognitiva nas diversas etapas da vida. É possível dizer que o que há em comum entre aquilo que é vendido pelas empresas e aquilo que é comprado por seus clientes é a esperança. Apontamos, por fim, para as técnicas de treinamento cerebral como tecnologias da esperança, devido ao fato de serem utilizadas pelas empresas do ramo para fomentarem em seus clientes e potenciais clientes a crença de que é possível agir no presente de forma a preservar e aprimorar as habilidades cognitivas, a prevenir doenças como o Alzheimer e a prolongar o tempo de vida com saúde, autonomia e independência.