Uma análise do discurso de Maimônides: diáspora, idolatria e messianismo no Livro da Sabedoria e no Guia dos Perplexos (1135- 1204)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Rosado, Layli Oliveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais::Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em História
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/19709
Resumo: No presente trabalho é proposto uma análise do discurso do rabino Moisés ben Maimon (1135 d.C. – 1204 d.C.), também conhecido como Maimônides, no Livro da Sabedoria (1180 d.C.) e em passagens selecionadas do Guia dos Perplexos (1190 d.C.), no intuito primário de identificar seu entendimento e seus discurso sobre diáspora, idolatria e messianismo. Maimônides foi líder espiritual da comunidade judaica de Fustat, região onde atualmente é o Cairo, no Norte da África, e produziu uma extensa bibliografia em temas variados, sendo destacáveis seus escritos que envolvem os conhecimentos médicos, filosóficos e teológicos. Destarte, suas obras de maior prestígio consistem no Comentário sobre a Mishná (1168 d.C.), o código Mishné Torá, tendo o Livro da Sabedoria como primeiro volume, e o Guia dos Perplexos, escritos estes que suscitaram polêmicas e debates no interior da comunidade judaica medieval, tanto por suas formas, quanto por seus conteúdos. Maimônides possuía o objetivo primordial de provar a identidade necessária entre filosofia grega e religião judaica para a correta compreensão das Escrituras Sagradas. Todavia, tal posicionamento não era compreendido pelos estudiosos judeus mais conservadores e, por vezes, visto como uma ameaça à tradição judaica. A polêmica e a hostilidade que envolveu os escritos de Maimônides ficou conhecida na história judaica como a Controvérsia Maimonidiana, e possuiu três fases: em 1180 d.C., quando do término do Livro da Sabedoria, de 1230 a 1232 d.C., e de 1300 a 1.306 d.C. Insta salientar que Maimônides viveu num período de severas contendas políticas e religiosas. A convivência entre as três religiões monoteístas, Cristianismo, Islamismo e Judaísmo, esta última como minoria política, permeou os anseios e as produções intelectuais medievais na Dispersão. O cotidiano como minoria religiosa, no caso em tela sob domínio do Islã, em que as posturas políticas e sociais dos dominantes alternavam entre uma tolerância “desdenhosa” e um radicalismo extremo, promoveu a diminuição do status quo das comunidades judaicas, enquanto que, ao mesmo tempo, promoveu um acesso e uma difusão de conhecimentos filosóficos da Antiguidade através do árabe, bem como trocas culturais diferenciadas a partir do século X. Nesse viés, a partir do Culturalismo Norte Americano, o qual leciona que o entendimento sobre o contexto é essencial para compreender as influências de um determinado tempo histórico no personagem estudado, e dos conceitos de identidade e de diáspora, objetiva-se, num primeiro momento, identificar no discurso de Maimônides elementos do conceito de diáspora nos escritos selecionados. Somado a isso, se propõe também identificar o conceito de idolatria nos escritos selecionados de Maimônides, visto que este compreendia a prática da não-idolatria como a diferença máxima entre os judeus e os não judeus, e analisar suas afirmações sobre a doutrina do messianismo, o qual corresponde ao elemento que interliga passado e futuro, e que envolve o início do fim do sofrimento judaico. Dessa forma, levanta-se a seguinte questão: Como Maimônides justifica a realidade vivida pelos judeus de seu tempo e de que forma é influenciado pelos questionamentos promovidos pela Diáspora judaica? Sendo assim, o eixo norteador deste trabalho é a compreensão e a identificação do conceito de diáspora e de seus elementos, a partir do Culturalismo Norte Americano e dos estudos culturais. Para tal, selecionou-se enunciados do Livro da Sabedoria e do Guia dos Perplexos, tendo como apoio algumas correspondências pessoais de Maimônides. Uma vez que se entende que o sentimento de diáspora abrange a afirmação de identidades, ou seja, a ideia de pertencimento, e de diferenças - a delimitação do “outro”, e a concepção de fim da vivência em dispersão e melhoria do status quo de determinada comunidade, o que culmina na ideia de promessa de um “futuro redentor”, concluiu-se que a Revelação no Monte Sinai e a concepção de Povo Eleito são afirmadas por Maimônides como justificativas para a unidade judaica e para a sua perseguição pelos não judeus, que o discurso de conciliação entre religião e filosofia grega objetivava garantir ao Judaísmo validade e legitimidade inquestionáveis, e que a prática do Judaísmo em segredo visando a sobrevivência, sob uma perspectiva de falsa conversão, desde que não se pratique a idolatria pode ser tolerada, o que sugere uma realidade mais permissível quanto à manutenção da unidade religiosa sob domínio muçulmano. A análise do discurso serve como referencial metodológico.