O fechamento das creches públicas e o cuidado de crianças na pandemia de Covid-19: uma análise da relação entre o extraordinário e o ordinário a partir das narrativas de mulheres de classes populares no Rio de Janeiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Hastenreiter, Leticia
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/22017
Resumo: Esta pesquisa insere-se no campo dos estudos de cuidado e gênero, destacando os marcadores de classe social e raça. Tem como objetivo principal analisar o significado do prolongado fechamento das creches públicas durante a pandemia de Covid-19, na perspectiva de mulheres de classes populares, refletindo sobre a relação entre o extraordinário (a pandemia) e o ordinário (o cotidiano) no cuidado de crianças pequenas nessas famílias. Os sujeitos da pesquisa são mulheres das classes populares, de maioria negra, cujos filhos tinham de zero a seis anos de idade entre março de 2020 e outubro de 2021, período em que as creches públicas do Rio de Janeiro permaneceram sem atividades presenciais por conta da pandemia de Covid-19. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas, além de conteúdos apreendidos em conversas informais e em uma roda de conversa realizada na creche municipal de uma comunidade na zona norte da cidade, da qual as interlocutoras são ou já foram usuárias. A pandemia e o fechamento das creches foram eventos extraordinários na vida dessas mulheres, com repercussões na relação delas com o trabalho remunerado e no esforço de manutenção da vida de suas famílias, que envolveu questões materiais como alimentação e pagamento de alugueis e também a própria sobrevivência perante o risco de contágio pelo Coronavírus. As repercussões em geral foram mais no sentido de deixar nítidas precariedades e outras características ordinárias na vida das mulheres das classes populares do que de alterar substancialmente o modo de vida delas. É possível sugerir também, a partir dos relatos, que a prática da maternagem das interlocutoras têm particularidades em relação a das classes médias, com menor conotação de maternidade como fardo e sofrimento. A raça é um fator que perpassa toda a pesquisa e uma reflexão é realizada em especial, sobre a questão do pardo e as diferentes formas que as mulheres se identificam e são identificadas racialmente, mostrando que a racialização é um processo relacional. Em grande parte dos relatos, as mulheres citaram a preocupação com o desenvolvimento das crianças, o que sugere um forte peso dado ao caráter educativo das creches pelas mulheres pesquisadas. Esse tema e alguns outros, principalmente a relação das mulheres de diferentes estratos sociais com a prática da maternagem, são importantes questões a serem melhor desenvolvidos em trabalhos futuros. A pesquisa sinalizou que a extraordinariedade da pandemia e do fechamento das creches escancarou desigualdades e precariedades cotidianas. Também ofereceu mecanismos que, embora tenham sido capazes de amortecer a escassez extraordinária, não modificaram as precariedades presentes na vida ordinária das mulheres de classes populares.