Ewé Igbo: árvores sagradas do Candomblé no contexto socioambiental

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Azevedo, Vitor Amorim Moreira de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Faculdade de Formação de Professores
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Ambiente e Sociedade
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/12097
Resumo: As religiões afro-brasileiras são baseadas na cosmovisão africana, onde os Orixás e a natureza representam um único ser. Dessa forma, como parte integrante desse contexto, as árvores exercem um papel fundamental na vida das comunidades religiosas, sendo atribuídos a elas valores ritualísticos e simbólicos do culto. O presente trabalho tem como objetivo compreender quais são as espécies arbóreas que representam símbolos sagrados dentro da liturgia do Candomblé, buscando contar a história religiosa a partir de suas árvores. A pesquisa foi realizada em três casas de Candomblé de Ketu localizadas no estado do Rio de Janeiro. Para realização da pesquisa foram utilizadas entrevistas livres, semi-estruturadas e observação direta, com perguntas direcionadas sobre a liturgia do culto das árvores. O material testemunho foi coletado seguindo as técnicas usuais em botânica, sendo esse incorporado aos herbários RFFP e RB. Foram identificadas 34 espécies, correspondendo a 32 etnoespécies. A pesquisa mostrou que nas práticas litúrgicas as árvores correspondem à morada dos Orixás, sendo seus troncos enfeitados por ojás (panos brancos ou coloridos) para demostrar sua sacralidade. Essas árvores têm um valor significativo no que tange a identidade religiosa, pois mostram o espaço como um lugar sagrado e de culto as divindades. O mito da Árvore Mundo é representado pela espécie africana Newbouldia laevis (P. Beauv.) Seem., que simboliza a união entre o Àiyé e o Òrun através de seu tronco sagrado. O Apáòká (Artocarpus heterophyllus Lam. - jaqueira) pode ser consagrado a diversos Orixás, entretanto sua presença é ligada mais diretamente à divindade fitomórfica específica, considerada mãe do Orixá Oxóssi. O Orixá Iroko (Ficus spp.) utiliza a árvore para ser sua morada, sendo seu culto relacionado à presença física do vegetal consagrado. Árvores frutíferas são importantes instrumentos de culto, indicando o forte valor litúrgico que alguns frutos apresentam nas obrigações dos Orixás. Sementes também são utilizadas nos preceitos religiosos, entre elas o obì (Cola acuminata (P. Beauv.) Schott & Endl.), associadas a Orumilá, o Orixá da adivinhação, sendo essas lançadas sobre um prato branco de modo que a posição em que caem dão uma resposta a quem os consulta. O àjóbi (Schinus terebinthifolia Raddi) é uma árvore consagrada ao Orixá Ossain, suas folhas e galhos são utilizados para enfeitar e vestir Ossain em dias de festa. Dentre as espécies levantadas 59% são exóticas provenientes principalmente da África e da Ásia; 41% são espécies nativas do Brasil. Uma dessas é endêmica do estado do Rio de janeiro, a quaresmeira (Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn.), consagrada a Nanã devido a cor lilás das pétalas das flores. Algumas espécies exóticas citadas são consideradas invasoras e podem causar problemas ambientais. As Casas de Candomblé são um importante espaço identitário e de regaste da memória da cultura e religiosidade afro-brasileira, que tem como princípio a comunhão com os elementos da natureza. A força dos Orixás está diretamente ligada ao território natural. Nesse sentido a prática ritualística prega o cuidado e respeito ao meio ambiente, mostrando que a natureza e a religião são indissociáveis.