Saúde Mental Global e Atenção Primária à Saúde no Brasil: um estudo de caso sobre os cuidados às pessoas com sintomas depressivos na Estratégia Saúde da Família da cidade do Rio de Janeiro.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Wenceslau, Leandro David
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/4784
Resumo: Esta tese é um estudo de caso etnográfico sobre a abordagem de pessoas com sintomas depressivos por residentes de medicina de família e comunidade na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados da experiência de campo foram analisados em diálogo com a crítica cultural à Saúde Mental Global (SMG). Através de uma revisão narrativa de literatura, identifiquei quatro usos da categoria cultura presentes em estudos críticos da SMG: a cultura como dimensão não biológica da realidade, como território das gramáticas morais humanas, como sistemas simbólicos não ocidentais e como estrutura social. Propus deixar de lado as falsas oposições que permeiam esses usos e reconfigurá-los a partir de uma conceituação semiótica de cultura e da investigação da circulação de economias morais na forma de fenômenos culturais e sociais . Dessa forma, desenvolvi uma interface teórica para o diálogo entre o campo empírico da pesquisa e a SMG. Ao longo de três meses, acompanhei os atendimentos de seis residentes de medicina de família em uma unidade da Estratégia Saúde da Família na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, com interesse específico de investigar como abordavam pacientes que apresentassem sintomas que pudessem ser diagnosticados com depressão. Pacientes e residentes, sem deixar de haver referências à categoria diagnóstica convencional da psiquiatria, faziam reinvenções locais da depressão e dos sintomas depressivos como idiomas de sofrimento. Os residentes trabalhavam com uma categorização da depressão entre morro e asfalto , cuja correspondência ou não com as experiências dos pacientes se tornou um dos focos do estudo. Entrevistei e acompanhei os atendimentos de 22 pacientes, 12 moradoras do morro e 10 moradores do asfalto . Embora tenha identificado indícios de padrões de manifestações vinculados à categorização morro/asfalto, o estudo das trajetórias individuais apresentou diversos elementos que contradisseram uma replicação homogênea desses padrões. A vida emergiu como uma categoria capaz de aglutinar os sentidos e significados tanto das vidas em sofrimento dos pacientes quanto das práticas clínicas de reengajamento com a vida dos residentes. A categorização morro e asfalto se mostrou produtora de tensões no campo, principalmente, quando ficavam evidentes as apostas morais de médicos e pacientes em torno dessas categorias. Essas economias morais eram reconfiguradas em diferenças nas abordagens dos sintomas depressivos de moradores do morro e do asfalto . As diferenças, por sua vez, se desdobravam em afinidades eletivas entre residentes e moradores do morro e maior comedimento na atenção à população do asfalto . São debatidos os impactos dessas questões na vida dos residentes e nos atendimentos aos pacientes. Esta pesquisa apontou para a necessidade de, por um lado, desviar das falsas oposições presentes nos usos da cultura na Saúde Mental Global e, por outro, explorar a circulação de orientações epistêmicas, determinações sociais e valorações morais como fenômenos indissociáveis quando está em jogo o sofrimento humano. Dessa forma, foi possível mapear tanto potências quanto dificuldades experimentadas por pacientes e profissionais em um cenário de expansão dos cuidados públicos à saúde mental no Brasil.