KAGWYRI’PE JIHOI: O TERRITÓRIO COMO FUNDAMENTO DO SABER TRADICIONAL PARINTINTIN NA ALDEIA TRAÍRA DA TERRA INDÍGENA NOVE DE JANEIRO, HUMAITÁ - AM

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Strachulski, Juliano lattes
Orientador(a): Floriani, Nicolas lattes
Banca de defesa: Nabozny, Almir, Schorner, Ancelmo, Haliski, Antonio Marcio, Cunha, Lucia Helena de Oliveira
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual de Ponta Grossa
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação Doutorado em Geografia
Departamento: Departamento de Geociências
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/2648
Resumo: Ao longo do tempo, os povos indígenas vêm desenvolvendo seus saberes tradicionais e construindo uma relação transcendental com o território e natureza local, inerentes não somente a elementos práticos, materiais, mas também simbólicos, espirituais. A Geografia acaba despertando o interesse pelos povos indígenas, por seus conhecimentos tradicionais, que versam sobre as formas de viver no mundo (relação com o território e territorialidades), o savoir-faire (práticas e habilidades), e tratam do mundo em que se vive (cosmogonia e cosmologia). Em especial, a Geografia Cultural entende como elementar, a tradução da complexidade local não de forma a simplificá-la, mas com vistas a torná-la mais inteligível aos olhos da ciência, a partir de referenciais como o território, territorialidade, (geo)símbolos, identidade territorial e suas implicações socioculturais e ambientais. Acerca do exposto, o objetivo norteador da tese foi compreender a importância do território para a existência dos saberes tradicionais Parintintin na Aldeia Traíra da Terra Indígena Nove de Janeiro, Humaitá - AM. Em termos metodológicos, buscou-se valorizar as vivências e saberes cotidianos, a partir de uma pesquisa participativa. Dentre os procedimentos metodológicos e as técnicas adotadas, destacam-se: entrevistas semiestruturadas, excursões à floresta, oficina participativa, convívio diário com os indígenas, uso de caderno de campo, registros fotográficos, entre outros. Na vivência com os atores sociais, observou-se que no contato e relacionamento com a sociedade não indígena seus saberes e costumes tradicionais proporcionaram uma relativa resistência à cultura externa, sendo que seu sistema cultural se adaptou, internalizando novas práticas materiais e imateriais híbridas. Portanto, a relação com o território e o manejo da floresta, apesar de ter sofrido com influências externas, é guiada por um conhecimento tradicional, apoiado numa concepção de natureza menos utilitarista e exploratória do que aquela da sociedade envolvente. O território é visto como sua base material e simbólica, em que se assentam seus conhecimentos tradicionais, tem origem seus mitos, lendas e crenças, onde caçam, pescam, praticam a agricultura e manejam as espécies vegetais elementares a sua sobrevivência física e cultural e, em especial, local em que coevoluem com a natureza. Em relação à interpretação dos saberes indígenas acerca da vegetação, evidencia-se que identificam e classificam, em especial, aquelas espécies utilizadas para o tratamento da saúde, conhecem a melhor forma de manipulá-las, e os ambientes em que elas se encontram, estando intimamente associados ao seu território. Entendem que devem respeitar as fases da lua, os seres da floresta (Curupira, Kagwyrajara e Pirakwera‟ğa) e suas crenças, em que situações determinadas plantas podem ser usadas para fins práticos (chás, xaropes, massagens, etc.) ou simbólicos (benzimentos, pintura corporal). Portanto, não são somente saberes práticos, que atendem às suas necessidades primárias, mas também frutos de observações em termos estéticos, intelectuais e/ou espirituais. São transmitidos oralmente dos mais velhos para os mais jovens, porém igualmente adquiridos por sua curiosidade, por uma capacidade intelectual de associar a presença de certos elementos (naturais e culturais) a determinados territórios. Por fim, destaca-se que os conhecimentos tradicionais possuem uma forma totalizadora de classificar e interpretar o mundo, mediante uma sensibilidade humana (elementos materiais e simbólicos).