Despotismo democrático na era da sociedade digital

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Monte, Romulo Silveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=108819
Resumo: A pesquisa aqui apresentada teve como objetivo empreender uma reflexão em torno das linhas de força que se cruzaram para produzir o cenário de recrudescimento do autoritarismo vivenciado nos últimos anos, o que fica nítido com a ascensão de figuras políticas abertamente autoritárias aos espaços institucionais e no papel de determinadas forças em processos políticos importantes como na eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos, na chegada dos neonazistas ao parlamento europeu e ao parlamento italiano por neofascistas, durante a campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia – o Brexit – marcada por discursos racistas e xenofóbicos, e no Brasil, com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência da República, figura com apoio declarado à ditadura militar brasileira (1964-1985) e às torturas realizadas durante o regime. O trabalho está dividido em três ensaios. No primeiro é dado enfoque à questão do autoritarismo brasileiro desde a construção histórica de uma sociedade autoritária cuja constituição democrática de 1988 não foi suficiente para romper com a permanência das heranças da colonialidade, das hierarquizações e violências presentes na sociedade brasileira desde a sua gênese. No segundo ensaio, é abordado o paradigma de governo inaugurado pelo neoliberalismo e como esse paradigma está relacionado tanto a uma guerra epistemológica pelo desmonte da noção de sociedade como esfera comum mediável pela política – condição para a democracia – quanto à instituição de uma forma de governo das condutas – a qual Foucault chamou de governamentalidade – pautada na implantação de uma lógica individualista e competitiva na qual o cidadão se converte em sujeito de desempenho. Esse sujeito de desempenho, desamparado de qualquer segurança social, passa a ver todos ao seu redor como concorrentes na própria manutenção da vida e esse estado de insegurança permite que seus medos e esperanças se convertam em mecanismos para a gestão e direcionamento das condutas. No terceiro ensaio, é trabalhada a questão das tecnologias digitais como mecanismos de vigilância e controle em um processo que atualiza o princípio da governamentalidade tornando-o ainda mais eficaz, na medida em que faz uso de mecanismos complexos para a captura dos padrões de comportamento, desejos e afetos dos indivíduos, o que possibilita a produção de comportamentos desejados a partir das interações em rede. Comportamentos que vão desde a compra de um produto até o reconhecimento de padrões que poderiam levar um indivíduo a votar em um candidato autoritário em uma eleição. O modo como essas tecnologias estão sendo utilizadas também favoreceria a permanência de preconceitos e a violação de direitos na medida em que muitas vezes expressam os preconceitos existentes nas sociedades em que são produzidas e permitem uma vigilância constante dos indivíduos. Conclui-se não ser possível sobrepor nenhum desses aspectos como o verdadeiro definidor do recrudescimento do autoritarismo na contemporaneidade, mas sim pensá-los com um amplo esquema por meio do qual se articula um despotismo entranhando em nossas sociedades. Todavia, o crescimento das tecnologias digitais como mecanismos de controle parece sinalizar para a formação de um totalitarismo digital ou cybertotalitarismo.