Linhas de cristalização e de fuga nas trilhas da estratégia saúde da família: uma cartografia da micropolítica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Silva, Maria Rocineide Ferreira da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=75397
Resumo: Este estudo é fruto de inquietações que emergiram de múltiplas vivências na Estratégia Saúde da Família entre o meio técnico, popular e acadêmico que suscitou como principal inquietação: o que se passa na configuração desses territórios do Saúde da Família onde a produção desejante é potencializada ou levada a se cristalizar numa massa amorfa e sem vida? Daí se originam os objetivos do estudo que foram: realizar uma cartografia da Estratégia de Saúde da Família de Fortaleza, abrangendo seus aspectos micropolíticos; conhecer os afetos e desejos que perpassam as relações entre trabalhadores e usuários no espaço da unidade de saúde; analisar as linhas onde transcorrem a política de organização, a gestão e a participação social na unidade de saúde; identificar os significados e sentidos que perpassam a construção da rede de cuidados no território existencial e geográfico desses sujeitos; compreender nesse rizoma o que potencializa e despotencializa a produção de vida dos sujeitos envolvidos na ESF. Para traçar as linhas e seus vários caminhos, adotou-se a cartografia proposta por Gilles Deleuze e Félix Guattari como referencial teórico, uma pesquisa de natureza qualitativa que considerou em sua produção uma diversidade de linguagens à procura de pistas para compreender a micropolítica estabelecida. A opção por utilizar o método cartográfico decorreu do fato de se lidar com linhas em constante mutação, com um plano de tensões que se movimenta e não é fixo. O campo de estudo foi um Centro de Saúde da Família, que abrange uma população de 30.656 mil habitantes, da região de mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano da cidade de Fortaleza. Participaram da pesquisa 14 trabalhadores(as) e 04 usuários(as) do serviço os quais compartilharam das oficinas de produção de dados ocorridas de agosto de 2010 a janeiro de 2011. A produção dos dados aconteceu com a realização de seis oficinas que tiveram como temas: 1. Formação do grupo e negociação dos objetivos da pesquisa; 2.A política de organização do serviço; 3. As relações na unidade de saúde: produção do cuidado; 4. gestão e participação social; 5. A construção da rede de cuidados no território existencial e geográfico; e 6. Círculo de cultura- potencialidades e situações-limites para uma unidade que deseja se transformar. O diário de campo e a observação assistemática também foram instrumentos desse processo. A análise do material produzido caminhou também na perspectiva rizomática, apropriando-se das linguagens utilizadas no desenvolvimento da pesquisa. Este estudo foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará e obteve aprovação sob o protocolo 127/10. Após a etapa de organização da produção dos dados, observou-se que as forças e fluxos presentes transitavam entre dois limites: o primeiro que se revelou como maioria, espaços cristalizados de produção, pouco potentes, mas com possibilidades de ressignificação se trabalhados e postos em análise pelo próprio grupo, o qual se denominou Linhas de Cristalização, onde os discursos caminharam para uma estagnação, revelando a própria forma de pensar e agir dos trabalhadores e usuários; e as Linhas de Fuga, onde a criação pode acontecer a partir de agenciamentos realizados, por agentes externos ou pelos movimentos que o próprio grupo se permitir. Desse processo, foram constituídos três grandes eixos de análise: Produção Política, que trouxe como foco as questões da gestão, atenção e participação, Produção de Afetivação, em que se aproximou dos afetos, e, nas oficinas, revelaram-se as intensidades para afetar-se no e pelo território, e o eixo da Produção do Cuidado, que se relacionou à constituição dos significados e sentidos que perpassam a constituição da rede de cuidados no território desses sujeitos. Neste estudo, a produção desejante entendida como a própria fabricação do social, gerada no cotidiano, que envolve politicidade, afetações, e o ato de cuidar se revelou multifacetadamente com base na polifonia reverberada nos encontros realizados. Algumas temáticas estiveram presentes em todos esses eixos; organização do serviço, território, vínculo, humanização, comunicação, entre outras. São significantes que funcionam como algo que costura esse rizoma, perpassa essas diversas linhas, amarrando-as num ponto em comum. Apreendeu-se que a avaliação que fará sentido para o Saúde da Família na contemporaneidade é aquela que parte do micro ou se ajunta a ele. O contexto local é cada vez mais fundante e gerador de analisadores para uma avaliação real. Avaliação precisa ser singularizada e transitar da micropolítica à macropolítica, por isso a escolha dos analisadores precisa ser assumida com sujeitos implicados. O território necessita ser atualizado no seu cotidiano em atividade. Considera-se fundamental a apropriação dos sujeitos implicados no Saúde da Família do saúdefamiliar, novo conceito formulado nesse processo; um devir a ser incorporado ao cotidiano capaz de ao ser trilhado fabricar a produção desejante. Palavras chave: Cartografia. Estratégia Saúde da Família. Micropolítica.