Tecendo o cuidado clínico de enfermagem abordando as sobras da racionalidade científica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Vieira, Alcivan Nunes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=84631
Resumo: <div style="">A demanda por cuidado em saúde é formulada e apreendida em contextos estruturados por discursos e práticas que configuram modos de atendê-la. Quando algo não se enquadra neste campo, passa a ser considerado uma sobra sem valor ou significado. Este rechaço ao que escapa da objetificação se fundamenta no método científico, que se utiliza da racionalização como procedimento estruturante da apreensão de tudo aquilo que é inerente à vida. Seguindo outra perspectiva, a psicanálise lida de modo diferente com estas sobras e isto que escapa do campo da racionalidade é denominado como resto ou como a causa do desejo inconsciente. Considerando que este resto comparece no cotidiano assistencial dos serviços de saúde, torna-se urgente compreender como abordá-lo fora da perspectiva da objetificação que o método científico instituiu. Esta tese propõe-se a refletir sobre o comparecimento do resto na Atenção à Saúde e no âmbito do cuidado clínico de enfermagem. Pretende discutir que relação pode ser estabelecida entre a demanda de cuidado e a causa do desejo. Neste sentido, propõe-se ainda a pensar algumas articulações entre o cuidado clínico de enfermagem e a psicanálise diante desse resto. Em termos de metodologia, este estudo se organiza como uma pesquisa em psicanálise onde foram combinadas estratégias utilizadas na construção do caso e no ensaio metapsicológico. O corpus constituiu-se de narrativas pessoais produzidas por enfermeiros, diante de demandas que contestaram o conhecimento acadêmico e produziram subversões na lógica assistencial. A discussão foi organizada em três categorias temáticas: o resto objetificado que extrapola a racionalidade; o resto que denuncia a resistência e a insubordinação do sujeito à medicalização da sua demanda, e o resto insuportável que causa o horror. Em cada narrativa foram identificados os momentos onde surgiram furos no discurso científico do campo da saúde. Compreendemos que o conhecimento que sustenta a atuação cotidiana da enfermagem participa da produção do resto, pois, a sua prática está em concordância com os esforços das ciências da saúde em nominar, classificar e apreender as demandas de cuidado sob um escopo teórico fundado na biomedicina. No contexto assistencial o resto se presentifica como uma insubordinação do paciente, denunciando as tentativas de medicalização da sua demanda. Logo, o que escapa das operações de objetificação e racionalização sofre um rechaço de modo naturalizado e sutil. Ao apontar para aquilo que fica fora do Simbólico, o resto traz à tona o mal-estar inerente ao processo civilizatório. Diante dele, qualquer conhecimento que se porte como uma verdade não abarca o Real que escapa de uma completa simbolização. Por sua vez, a psicanálise não se propõe a oferecer respostas universais ou a promover agenciamentos de coletivos para se lidar com o resto; ela convoca o sujeito a tomar posição a partir daquilo que o causa. A via do saber proposta por ela não se trilha com o acúmulo do conhecimento, por isso o investimento a ser feito é aquele onde o desejo seja colocado em questão. Valorizar a singularidade do paciente no âmbito do cuidado clínico de enfermagem implica no reconhecimento do saber e do desejo desse outro que demanda o cuidado. Ocuparse das demandas singulares que podem emergir deste encontro remete estas práticas para as questões de fineza, ou seja, para as intervenções oportunas pautadas na subjetividade e no estabelecimento de vínculos onde o paciente possa se escutado por parte dos profissionais e, portanto, participar da produção do cuidado. Nesta perspectiva, apostamos no cuidado clínico de enfermagem que se produz tecendo a-bordagens das demandas que sobram das lógicas assistenciais e sutilmente resistem às tentativas de objetificação.&nbsp;</div><div style="">Palavras-chave: Enfermagem. Cuidado em Saúde. Clínica. Psicanálise</div>