Práticas identitárias no discurso midiático de humor evangélico-cristão do site Genizah: uma investigação translinguística

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Silva, Francisco Geilson Rocha Da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=114003
Resumo: Onde há discurso há simultaneamente práticas identitárias em ação. Essas práticas se manifestam quase sempre tendo como base fortes embates discursivos, nos quais a relação identidade e diferença, eu-outro, estabelece-se como o tenso lugar a partir do qual ininterruptos processos de [des]construção de identidades são instituídos. No que se refere à prática discursiva religiosa, o mesmo fenômeno de representação, resultante do choque entre diferenças que se estabelece na linguagem, pode ser verificada. Assim, cientes da intersecção linguístico-discursiva na construção das identidades sociais, no papel fundamental do discurso religioso (seja cristão ou não) nesse processo (MARTINO, 2016), tomamos por base a concepção bakhtiniana de que todo enunciado surge em resposta a outro na cadeia da comunicação discursiva (BAKHTIN, 2011), sendo toda e qualquer prática discursiva sempre uma questão de “contraposição dialógica” (BAKHTIN, 2015a, p. 49), interessa-nos na presente tese analisar o modo como o fenômeno das práticas identitárias se estabelecem num tipo específico de enunciado, a saber, o de humor evangélico-cristão, presente no site (de vertente protestante-histórica) Genizah. Dessa forma, fundamentados na ideia de que identidades são, assim como os sentidos, sempre discursivamente tecidas na relação dialógica com o outro (BAKHTIN, 2011, 2015; BAUMAN, 2005, HALL, 2006) e de que, muitas vezes, essas identidades/sentidos são construídas por elementos da carnavalização (BAKHTIN, 2010; 2015), optamos por analisar seis textos textos do site Genizah, bem como verificar a repercussão (responsiva) do que é veiculado no site no Facebook, no Instagram e no blog de Julio Severo, conhecido por suas postagens de cunho mais conservador, material esse que nos interessa por emergir daí uma voz antagonista à do site Genizah. Nosso foco é, então, verificar as representações advindas tanto dessas tensas relações dialógicas como da cosmovisão carnavalesca, articulada verbovisualmente no site Genizah, examinando também a maneira como o riso, provocado por esses procedimentos discursivos, colabora na construção dessas representações observadas nesse espaço digital. Metodologicamente, tomamos como fundamento as ideias advindas do Círculo de Bakhtin, pois nos possibilitam a construção de uma análise de discurso que leva em consideração o horizonte social no qual está localizado o objeto de investigação e as relações de responsividade, suscitadas pelo enunciado em análise, sem as quais a construção dos sentidos e a captação dos efeitos de sentidos dos textos tonam-se inviáveis. Nessa pesquisa, optamos por analisar os seguintes textos: “Ana Paula Valadão e Agenor Duque: briga no chiqueiro e as tais bases bíblicas” e “Na igreja, o Ap. Fred Flintstone se veste de ‘panos de saco’. Mas é miilionário e só anda de Porsche e Ferrari”, “Silas Malafaia promove um arrastão em Águas de Lindoia!” e “Não tem dinheiro para carnaval, mas não falta dinheiro para fazer filme sobre o filho de satanás”, do site Genizah. Desta maneira, pautados nos elementos cômico-carnavalescos e nas relações dialógicas presentes no texto do site Genizah, assim como na repercussão responsiva dos seus dizeres que se pôde observar em alguns comentários no Facebook, no Instagram, bem como no blog de Julio Severo, verificamos a construção de representações, não simplesmente de um líder religioso específico, mas de um grupo, a vertente religiosa [neo]pentecostal. Assim, da reunião dos elementos carnavalescos somados aos posicionamentos axiológicos que se articulam verbo-visualmente nos enunciados analisados, observamos emergir, para além da suposta intenção apologética do site, representações discursivamente tecidas do que vem a ser a forma de cristianismo pentecostal, a saber, uma religiosidade bélica, manipuladora de “verdades”, espetaculosa, autoritária e agente de “absurduários”, como destaca o sujeito-autor. Um tipo de cristianismo herético, desordeiro, dissimulado, explorador e ainda cúmplice de escândalos político-econômicos, “digno” das “excentricidades”, das “obscenidades” e das ambivalentes “grosserias” mobilizadas no enunciado e que necessita com urgência ser renovado e enfrentado por meio de uma linguagem “contaminada” pelo riso. Além disso, observamos, de igual maneira, a construção simultânea da identidade de quem faz rir no site Genizah, no caso, o sujeito-autor. Enquanto carnavaliza os alvos de sua “apologética com humor”, identifica-se como alguém de características completamente divergentes em relação ao objeto de seu movimento de humor, um “totalmente outro”.