[pt] PAISAGENS SEMIÓTICAS DA INFÂNCIA EM DESLOCAMENTO: UMA ANÁLISE DE NARRATIVAS MULTIMODAIS EM CAMPANHAS HUMANITÁRIAS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: JACQUELINE TEIXEIRA
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: MAXWELL
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=68177&idi=1
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=68177&idi=2
http://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.68177
Resumo: [pt] Segundo a ONU, presenciamos a pior crise humanitária do século. Esse quadro torna-se ainda mais grave quando envolve o deslocamento de crianças. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) afirma que conflitos, violência e outras crises deixaram um recorde de 36,5 milhões de crianças deslocadas no final do ano de 2021, o número mais alto já registrado desde a Segunda Guerra Mundial. Desse total ainda se encontram excluídas as deslocadas por desastres naturais ou mudança climática, assim como as recém deslocadas em 2022 pela invasão russa na Ucrânia. Diante da desordem do quadro internacional, organizações multilaterais, responsáveis pela gestão das vidas precárias (Butler, 2018), mais do que nunca precisam arrecadar fundos para a implementação de projetos e programas de assistência a essa população através da sensibilização pública. Este presente estudo elegeu como objeto analítico campanhas de organizações multilaterais – Fundo das Nações para a Infância (UNICEF), Organização Internacional para as Migrações (OIM) e Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) – veiculadas pela plataforma YouTube, cuja temática centra-se na infância em deslocamento forçado. A partir da análise de quatro produções fílmicas selecionadas, procuramos investigar como a criança/infância, em contexto de refúgio, é representada em interface com a grande narrativa (Lyotard, 2009; Shoshana, 2013) hegemônica que, ao essencializá-la e normatizá-la, produz dicotomias que separam o que está dentro ou fora de lugar, trazendo consequências importantes para a imaginação e gestão da infância em tal contexto. Tratando-se de produções fílmicas, palavra e imagem articulam-se na construção de significados tanto sobre a infância como sobre o próprio processo migratório, geralmente apagando os aspectos macrossociais, sob a égide da linguagem humanitária. A fim de iluminar tais questões, lançamos mão de categorias analíticas da Análise de Narrativas (Labov e Waletsky, 1969 e Labov, 1972; Bamberg e Georgakopoulou, 2008; Bastos e Biar, 2015; Bucholtz e Hall, 2005) transpostas ao contexto multimodal (Kress e Van Leeuwen, 2006). A análise, além de problematizar certas representações que reforçam estereótipos (Bhabha, 2006, 2009; Chouliaraki, 2006, 2010; Tabak e Carvalho, 2018, entre outros), procurou identificar os processos que produzem diferentes afetos entre espectadores e representados. A ambivalência da vítima essencializada, que gera piedade e/ou medo, solidariedade e/ou repressão está no cerne da questão da representação dos refugiados (Chouliaraki, 2006, 2010), e a imagem da criança, além de intensamente explorada, é hoje, cada vez mais, disputada no mercado de doações transnacional. Simultaneamente, no entrelace com teorias da visualidade (Sontag, 2003; Chouliaraki, 2006, 2010; Rancière, 2014; Lenette, 2017; Butler, 2018), buscou-se refletir, a partir dos dados, sobre as limitações, os desafios e tensionamentos inerentes à representação daqueles que sofrem, sem deixar de lançar luz sobre o protagonismo e a resistência que ecoaram na voz e na imagem das crianças no espaço micro da representação.