Encarnando a europeia: Biografias corporais, (i)mobilidades e subjetividades de trabalhadoras do sexo trans e travestis em Lisboa
Ano de defesa: | 2020 |
---|---|
Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade de Lisboa
Instituto de Ciências Sociais Portugal OpenSoc: Sociologia conhecimento para sociedades abertas e inclusivas. |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Não Informado pela instituição
|
Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | https://deposita.ibict.br/handle/deposita/616 |
Resumo: | Esta tese busca compreender a construção de biografias corporais e de patrimônios de disposições de trabalhadoras do sexo trans e travestis brasileiras em mobilidade para Portugal e/ou no continente europeu. Por meio de entrevistas compreensivas e teoricamente orientado por uma Sociologia à escala individual e do corpo, analiso as disposições para a modificação do corpo e de produção do Eu produzidas no decorrer de trajetórias de vida que transitam por contextos sociais, geográficos e históricos distintos. A excorporação da identidade de gênero feminina visibiliza, desde cedo, no percurso de vida destas pessoas, os dispositivos de normatização da cisheteronormatividade e as representações de abjeção associadas às corporalidades e subjetividades das interlocutoras. Neste sentido, começo por apreender como a assunção social de marcadores corporais de feminilidade se entrelaça com as desigualdades de classe e suporte familiar, de racialização e etárias/geracionais que impactam na construção das biografias corporais e nos processos de subjetivação. A mobilidade para Europa é percebida como um dos pontos de viragem mais marcantes dos percursos de vida destas pessoas, ao propiciar distintas experiências de sociabilidade na vida pública e nos campos prostitucionais. A mobilidade transnacional altera também os patrimónios de disposições que orientam os projetos de corpo subjacentes a diferentes expressões de gênero e de distintas práticas sexuais. A circulação pelo continente europeu colabora na elaboração de estratégias do trabalho do sexo que possibilitam a acumulação de capital econômico e a obtenção de uma posição de poder nos territórios do trabalho sexual. Os trânsitos corporais e geográficos evidenciam, portanto, processos de acumulação e conversão de capitais vários – de mobilidade, corporal, cultural, social e econômico - que viabilizam a aquisição de agência e autonomia nos percursos de vida e no trabalho sexual. Assim, diferentes biografias corporais correspondem a diferentes tipos de (i)mobilidade para/pela Europa que, por sua vez, dão visibilidade a diferentes formas de desigualdade presentes no continente europeu. A acumulação de capital econômico que as diferentes experiências de (i)mobilidade proporciona, vai dar acesso a diferentes biotecnologias de transformação do corpo convertíveis em formas desiguais de capital corporal, todas elas, contudo, convergindo no ideal da encarnação da europeia. As dificuldades do país de origem relacionadas às desigualdades de classe e/ou à transfobia estrutural e representações de abjeção sobre o corpo são, assim, ressignificadas ao longo das vivências na Europa, resultando na obtenção de capital simbólico cujo reconhecimento passa, em larga medida, pela encarnação de recursos e símbolos conotados com as representações de glamour e luxo atribuídas à experiência europeia. |