Violência digital nas relações afetivo-sexuais adolescentes

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Flach, Roberta Matassoli Duran
Orientador(a): Deslandes, Suely Ferreira
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/55504
Resumo: A partir dos anos 2000, a internet e suas inovações tecnológicas digitais ampliaram ainda mais as possibilidades de conexão e hiperconexão, propiciando a ruptura de barreiras geográficas e mesmo presenciais. Conhecida como segunda geração da World Wide Web, a Web 2.0, tornou o ambiente online mais dinâmico, afetando mundialmente a maneira como se dão as relações íntimas e interpessoais cotidianas. Com o advento das redes sociais a cultura digital incita seus partícipes à hipervisibilidade e espetacularização das intimidades, publicizando nos meios digitais questões de foro íntimo, especialmente os relativos à sexualidade e corporalidade, resultado do embaralhamento entre as fronteiras do público e do privado. Por meio destas novas mídias digitais nos tornamos, ao mesmo tempo, controladores e controlados, e as próprias relações de intimidade se tornam mais líquidas. As relações íntimas se dão por conveniência, por impulso e devem ser consumidas instantaneamente, de uma única vez e forma descartável. A ordem do dia é satisfazer os desejos de súbito, experimentar, sem preconceitos. Nesse cenário, onde as relações se tornaram mais fluidas, frágeis e com redução de vínculos duradouros, os adolescentes são também convocados a reatualizar os sentidos de suas práticas amorosas. Dentro deste contexto relacional mais íntimo, marcado pelas disputas entre os distintos modelos de amor, há tensões constantes que visam estabelecer limites, sejam estes (in)formalmente demarcados, numa espécie de “contrato amoroso”, que estabelece o que é ou não permitido, aceito, negociado ou perdoado, delimitando as fronteiras do que passa a ser visto como “abusivo”. Os abusos digitais no contexto dos relacionamentos afetivo-sexuais são definidos internacionalmente como “cyber dating abuse (CDA)” e pode ser caracterizado como uma nova expressão da violência entre parceiros íntimos (VPI). Os tipos de abuso digitais mais comuns são: 1. Agressão direta; 2. Controle/ Monitoramento, 3. Sexting como pornografia de vingança e 4. Sextorsão. Na agressão direta são realizadas ameaças, insultos, disseminação de informações privadas, incluindo fotos e vídeos pessoais, roubo de identidade por meio da criação de perfis falsos em rede social, rastreamento da última conexão, uso de senha pessoal do(a) (ex)parceiro(a) sem o consentimento para verificar e-mail, contatos telefônicos, mensagens de texto e de rede social ou até mesmo para monitorar a localização via GPS, com a intenção de o (a) humilhar e embaraçar. O controle/monitoramento é feito via aplicativos gratuitamente disponibilizados nos sistemas Android e iPhone, que possibilitam o controle remoto do aparelho de outra pessoa, sem o conhecimento e consentimento da mesma, incluindo o uso de “cercas eletrônicas”, controle de localização, escuta de ligações telefônicas, acesso a mensagens de texto, às redes sociais, e-mail, à galeria de imagens e vídeos, clonagem do whats app, somente para citar algumas. O sexting usado como pornografia de vingança é a ameaça em divulgar nudes e vídeos íntimos feitos e trocados voluntariamente durante a vigência do relacionamento íntimo, obrigando uma pessoa a fazer algo que ela não quer. A sextorsão se refere a ameaça de expor fotos e vídeos íntimos de alguém, caso essa pessoa não aceite pagar um valor exigido (extorsão). Dentre as consequências à saúde estão: danos à identidade, autoestima, integridade e privacidade, deixando marcas psíquicas (ansiedade, depressão, distúrbio do sono, ideação e tentativa de suicídio) cujas extensões ainda são pouco conhecidas. Tais conseqüências nos alertam para a importância do olhar diferenciado dos profissionais de saúde à abordagem desses temas junto aos adolescentes e à sua pronta identificação nos serviços de saúde, em face à vulnerabilidade dos adolescentes em sofrer e praticar tais formas de abuso.