Tuberculose na população indígena de Rondônia: caracterização do acesso aos serviços de saúde e diagnóstico situacional entre os Wari da aldeia Igarapé Ribeirão

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Malacarne, Jocieli
Orientador(a): Basta, Paulo Cesar
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/36441
Resumo: Introdução: Apesar da tuberculose (TB) se manter como um dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil, sobretudo entre os povos indígenas, pouco se sabe a respeito das dificuldades enfrentadas pelos doentes indígenas para acessar os serviços de saúde e obter o tratamento adequado, conforme preconizado pelas diretrizes nacionais. Objetivos: Este estudo tem como objetivo investigar o acesso de indígenas suspeitos e portadores de TB aos serviços de saúde no Estado de Rondônia (RO) e realizar diagnóstico situacional da TB entre os Wari´ da aldeia Igarapé Ribeirão. Métodos: Realizou-se um estudo que ocorreu no período entre 2009-2011, onde foram entrevistados indígenas com sintomas respiratórios (SR) e em tratamento para TB em quatro Casas de Saúde do Índio (CASAI) de Rondônia. Além disso, realizou-se um estudo transversal na aldeia Igarapé Ribeirão em fevereiro de 2011, onde utilizou-se a PT em todos os indígenas, além de baciloscopia e cultura de escarro e RX nos sintomáticos respiratórios e indígenas com história de tratamento para TB. Resultados: No contexto das CASAI, foram entrevistados 76 indígenas com SR e/ou suspeita de TB. Houve predomínio das etnias Suruí (40,8%), Wari´ (19,7%) e Karitiana (11,8%). Observou-se que 34,2% dos indígenas relataram ter chegado a CASAI por conta própria e 31,6% referiram ter sido encaminhado pelo AIS. Desde o início dos primeiros sintomas, 34,2% dos entrevistados demoraram mais de 30 dias para chegar a CASAI. A falta de transporte foi a maior dificuldade enfrentada para chegar ao serviço de saúde, e 32,9% relataram que foi preciso mais de 5 semanas para obter um diagnóstico. Dentre esses entrevistados, 52 iniciaram tratamento para TB e o tempo gasto desde a primeira consulta até o início do tratamento foi superior a 30 dias em 61,5% dos indígenas, sendo que o tratamento supervisionado não foi realizado em 34,6% dos casos. Na aldeia Igarapé Ribeirão foram examinados 263 indígenas, dos quais 9,1% referiram sintomas respiratórios e 18,6% história anterior de TB. A prevalência de infecção por MTB foi 40,3% e o RAI 2,4%. As variáveis faixa etária ≥15anos (RP=5,5;IC95%3,5-8,6), contato com doente de TB há menos de 2 anos (RP=3,8;IC95%1,2- 11,9), antecedentes de TB (RP=1,4;IC95%1,2-1,7) e cicatriz vacinal BCG (RP=1,9;IC95%1,2-2,9) mostraram associação com PT ≥ 5 mm. Discussão: Nossos achados revelaram as principais dificuldades enfrentadas pelos indígenas para obter acesso aos serviços de saúde, receber um diagnóstico correto e iniciar o tratamento oportuno para TB. Ademais, foi possível dimensionar a situação epidemiológica da TB entre os indígenas da aldeia Igarapé Ribeirão, e revelar que a transmissão se mantém em altos patamares, pois a prevalência de ITBL foi elevada, fazendo com que a população esteja submetida a um permanente risco de infecção e adoecimento. Conclusão: O desempenho dos serviços de saúde em RO, em relação às ações de detecção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos de TB entre os indígenas estão em desacordo com as normas preconizadas pelas Diretrizes Brasileiras para o Controle da Tuberculose. Parte desse problema se manifesta por meio dos elevados indicadores de transmissão revelados em nosso estudo. Dessa forma, sugerimos que as autoridades em saúde revejam as estratégias atualmente empregadas para o controle do agravo entre essas populações e busquem priorizar a detecção e o tratamento precoce dos casos nas aldeias, assim como investir no diagnóstico e tratamento da infecção latente. Acreditamos que somente dessa forma, vislumbrar-se-á um cenário mais favorável, em médio/longo prazo.