Estudo da doença de Chagas no semiárido piauiense: prevalência, fatores associados e indicadores entomológicos no município de São João do Piauí, PI, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Santos, Jéssica Pereira dos
Orientador(a): Costa, Filipe Anibal Carvalho, Mallet, Jacenir Reis dos Santos
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/52523
Resumo: O Piauí apresenta, historicamente, taxas de soroprevalência para a doença de Chagas elevadas e é, do ponto de vista fisiogeográfico, uma transição de diferentes biomas brasileiros. O semiárido predomina ao leste e ao sudeste, cenário favorável à existência de habitats naturais de diferentes vetores da doença de Chagas, característicos da região nordeste do Brasil. O presente estudo teve como objetivos principais: i) estimar a prevalência, descrever a distribuição e avaliar os fatores associados à doença de Chagas na população rural do município de São João do Piauí, ii) avaliar a fauna triatomínica local, incluindo a identificação de espécies e a caracterização da infecção natural dos insetos por Trypanosoma cruzi, iii) estimar a frequência da forma cardíaca da doença nas comunidades estudadas e iv) descrever, a partir de dados entomológicos secundários de vigilância, a distribuição geográfica das diferentes espécies de vetores e os indicadores entomológicos em nível estadual. Para atingir esses objetivos foram realizados: i) um estudo transversal que incluiu 683 pessoas em 244 domicílios de 12 localidades rurais do município de São João do Piauí, com a obtenção de amostras de soro (para os testes ELISA e imunofluorescência indireta) e dados sociodemográficos, ii) um inquérito entomológico que incluiu todos os domicílios estudados, incluindo o estudo da infecção natural dos insetos por T. cruzi por microscopia óptica e cultivo e a genotipagem dos parasitas por técnicas moleculares, iii) a avaliação clínica e eletrocardiográfica de um grupo de pessoas com exames sorológicos positivos e iv) uma análise dos dados de vigilância entomológica disponibilizados no Sistema de Informação das Operações de Campo – SIOC/Chagas, incluindo geoprocessamento Observou-se que: i) a taxa de soroprevalência geral nas comunidades foi 8,1%, aumentando paralelamente à faixa etária de forma significativa e sem exames positivos em pessoas com menos de 30 anos, ii) foram coletados 1.474 triatomíneos, dos quais 87,2% eram Triatoma brasiliensis, 1,8% era T. pseudomaculata e 10,7% eram T. sordida; 9,7% foram coletados no interior das residências, incluindo estádios ninfais; as taxas de infecção por T. cruzi nos insetos foram de 0,5% por microscopia óptica e 0,9% por cultura em meio NNN/LIT; cinco isolados foram submetidos à genotipagem sendo três identificados como T. cruzi I e dois como T. cruzi II, iii) entre as pessoas com exame positivo avaliadas, 43% tinham alterações eletrocardiográficas compatíveis com a forma cardíaca da doença e iv) em nível estadual, a distribuição espacial das espécies de vetores é heterogênea, já que T. brasiliensis e T. pseudomaculata predominaram no sudeste e centro norte do estado, T. sordida no sudoeste e Rhodnius spp. no norte. O trabalho aponta para: i) alta soroprevalência em comunidades rurais no ambiente fisiogeográfico da Caatinga, ii) alta densidade vetorial e frequente colonização intradomiciliar nas comunidades estudadas, principalmente por T. brasiliensis, iii) evidência de interrupção da transmissão vetorial, sugerida pela ausência de exames positivos em jovens e crianças e baixa taxa de infecção dos triatomíneos por T. cruzi, iv) os indicadores entomológicos em nível estadual são geograficamente heterogêneos mas apontam para risco de transmissão em diversas regiões do estado e v) a doença de Chagas deve ser incorporada às rotinas da atenção primária à saúde, principalmente no semiárido piauiense, com o estabelecimento de linhas de cuidado, fluxos de referência para os níveis secundário e terciário, acesso ao diagnóstico, aliados à manutenção das atividades de vigilância entomológica e controle químico dos vetores