Tuberculose em municípios da tríplice fronteira Brasil / Colômbia/ Peru: situação epidemiológica, fatores associados e dinâmica de transmissão

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Belo, Elsia Nascimento
Orientador(a): Basta, Paulo Cesar
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/40081
Resumo: Introdução: A tuberculose se constitui em problema prioritário para a saúde pública no Brasil, onde encontra-se distribuída em todo território nacional, com as mais elevadas incidências registradas nas regiões Sudeste, Norte e Nordeste. Na região Norte, as maiores incidências são verificadas no estado do Amazonas, onde há grande contingente de população indígena que é apontada como mais vulnerável ao adoecimento por tuberculose (TB). Objetivos: Descrever a situação epidemiológica da tuberculose nos municípios amazonenses que integram o Arco Norte da Faixa de Fronteira Internacional do Brasil, no período de 2001 a 2010 e, ainda, investigar fatores associados ao adoecimento por tuberculose e caracterizar as cepas de Mycobacterium tuberculosis (MTB) circulantes no período de setembro de 2012 a dezembro de 2013, nos municípios de Tabatinga (Brasil) e Letícia (Colômbia). Metodologia: A estratégia para alcançar os objetivos propostos foi idealizada em três componentes integrados e complementares: a) estudo epidemiológico, retrospectivo que analisou os casos novos de TB notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), nos 21 municípios amazonenses que integram o Arco Norte da Faixa de Fronteira Internacional do Brasil no período 2001-2010, utilizando-se a regressão logística univariada e multivariada para identificação de fatores associados ao abandono do tratamento; b) estudo caso-controle de base populacional, definindo casos como todos os doentes de TB diagnosticados e tratados nos serviços de saúde de Tabatinga e Leticia , no período de 01 de setembro de 2012 a 31 de dezembro de 2013. Para cada caso foram selecionados dois controles, indivíduos sem sinais/sintomas de TB, residentes na vizinhança e na mesma faixa etária do caso. Casos e controles foram entrevistados utilizando-se um questionário padronizado com 64 questões incluindo dados de identificação, dados sobre escolaridade, dados para caracterização da renda e situação do domicílio, dados da história clínica e antecedentes de saúde e dados para caracterizar história epidemiológica da TB. Foi empregada a regressão logística condicional, univariada e multivariada, para identificar os fatores associados ao adoecimento por TB; c) estudo analítico empregando a técnica DRE-PCR para genotipagem das cepas de Mycobacterium tuberculosis. Resultados: O levantamento dos dados do SINAN revelou que a incidência média segundo raça/cor foi maior entre os indígenas e que o abandono do tratamento esteve associado à não realização das baciloscopias de acompanhamento no segundo, quarto e sexto mês de tratamento (OR=11,9; IC95%: 7,4 a 19,0); ao reingresso pós-abandono (OR=3,0; IC95%: 1,5 a 5,9) e à residência em algumas sub-regiões, sobretudo no Alto Solimões (OR=6,7; IC95%: 4,6 a 9,8). Mostrou que, de modo geral, as taxas de incidência reduziram gradualmente no conjunto dos municípios, no entanto, em Tabatinga praticamente duplicou do primeiro ao último período. No estudo caso-controle foram entrevistados 95 doentes com TB (casos) e 182 controles na comunidade e demonstrou que o adoecimento por TB esteve fortemente associado com o contato com doente de tuberculose há menos de dois anos (OR=19,8; IC95%: 4,4 a 89,9), ausência de escolaridade (OR=10,0; IC95%: 2,5 a 40,9), uso de drogas (OR= 9,4; IC95%: 2,4 a 36,4), ser indígena (OR=3,2; IC95%: 1,0 a 9,7), ser portador de diabetes mellitus (OR=4,9; IC95%: 1,1 a 21,7), residir em domicílio com mais de 10 pessoas (OR=4,1; IC95%: 1,1 a 15,2) e de ser usuário de mais de quatro doses de bebida alcoólica (OR=3,4; IC95%: 1,4 a 8,3). Para a caracterização das cepas de M. tuberculosis, foram analisadas 36 cepas de M. tuberculosis pela técnica DRE- PCR. Revelando-se que 8 (22,2%) cepas foram reunidas em grupos clonais com 100% de similaridade, indicando transmissão recente. As cepas restantes (77,8%) apresentaram perfil genético único indicando que nesses casos a TB ocorreu por reativação endógena. Conclusões: Nossos achados confirmaram que a TB é um dos principais agravos na região em estudo e se mantém em altos patamares de transmissão. Os resultados revelaram importantes preditores relativos ao abandono de tratamento na região, além de fatores relevantes que estiveram associados ao adoecimento por TB como a história recente de contato com outro doente de TB, a ausência de escolaridade, o consumo de drogas, a presença de diabetes mellitus, a aglomeração no domicílio, o consumo elevado de bebidas alcoólicas, a cor ou raça indígena e um menor poder aquisitivo. Foi possível ainda identificar grupos clonais de M. tuberculosis com 100% de similaridade.