Investigação de casos de malária autóctone na Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro de 2006 a 2013

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Costa, Anielle de Pina
Orientador(a): Brasil, Patrícia, Suárez Mutis, Martha Cecilia
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/25130
Resumo: A transmissão autóctone da malária no estado do Rio de Janeiro foi considerada eliminada em 1968; entretanto, casos autóctones esporádicos são descritos em diferentes regiões do estado cobertas por Mata Atlântica, sendo escassos os dados referentes aos mecanismos de transmissão e das formas de apresentação clínica da doença. A autoctonia em estados vizinhos ocorre em números superiores aos do Rio de Janeiro e a infecção por Plasmodium em macacos onde ocorrem casos favorece a hipótese de que a malária nessas regiões possa ser uma zoonose. Baseados nesses antecedentes, avaliamos os aspectos epidemiológicos, clínicos, sorológicos e moleculares de 14 casos autóctones adquiridos na região de Mata Atlântica no estado e atendidos no período de 2006 a 2013 no IPEC/Fiocruz. Também estimou-se a prevalência de infecção por Plasmodium na vizinhança dos casos através de inquérito sorológico e molecular. Foram capturados e identificados nas regiões onde ocorreram os casos, vetores nos quais se pesquisou a presença de plasmódio através de exame molecular. Foi feita igualmente a investigação e caracterização molecular da infecção por Plasmodium em um grupo de símios de um Centro de Primatologia localizado na Mata Atlântica do estado. A maioria dos casos ocorreu em visitantes, nos meses mais quentes do ano, e todos tiveram infecção por P.vivax. Contudo, a análise microscópica das lâminas positivas demonstrou que, fenotipicamente, os parasitos se apresentavam de forma atípica, com um menor número de merozoítos no interior dos esquizontes quando comparado com o de P. vivax clássico. No inquérito sorológico foram observados anticorpos contra todas as variantes de CSP de P.vivax, com predomínio da VK 210 (91%) Na pesquisa de anticorpos anti-CSP de P.malariae/brasilianum, 36% dos casos tiveram pelo menos uma amostra positiva, assim como 73% dos casos tiveram pelo menos uma amostra positiva para anticorpos anti-CSP de P.falciparum. A genotipagem dos microssatélites dos parasitos identificados nos casos apontou para uma grande diversidade genética. Identificou-se duas situações epidemiológicas distintas que podem ser caracterizadas como de dois perfis: o de casos das regiões montanhosas, de Serra (Guapimirim, Teresópolis, Sana, Macaé de Cima e Lumiar) com agente etiológico fenotipicamente diferente do P.vivax, cursando com baixa parasitemia; sintomatologia que se inicia com febre diária e depois assume padrão terçã clássico e evolução clínica sub aguda. Sob o ponto de vista entomológico houve predomínio de mosquitos do sub-gênero Kerteszia (particularmente Anopheles kerteszia cruzii), mas nenhum espécime foi positivo para plasmódio em exame molecular. Detectou-se frequência elevada de sorologia positiva para a proteína 1-19 da superfície do merozoíta (MSP1-19) de P. vivax na população contactante vizinha, embora os exames moleculares em busca de parasitos nesses indivíduos tenham sido negativos. As características das regiões associadas à presença do vetor apoiam a hipótese da malária nestas localidades de vales e montanhas ser autóctone. O outro perfil epidemiológico é o encontrado em áreas de planície nas localidades de Santana de Japuíba (Cachoeiras de Macacu) e Sapucaia, no qual os casos se apresentaram com um plasmódio semelhante ao P. vivax tradicional no que se refere à morfologia, à parasitemia e aos aspectos clínicos da doença resultante da infecção Nessas regiões, predominaram os Anopheles (Nyssorhynchus) aquasalis (nenhum positivo para plasmódio em exame molecular) e a população vizinha contactante também apresentou negatividade em todos os exames moleculares mas com baixa frequência de sorologia positiva para a MSP1-19 de P. vivax. De forma complementar, foram examinados 30 primatas das famílias Cebidae e Atelidae do Centro de Primatologia (CPRJ) em Guapimirim, e 30% tiveram PCR positivo [cinco (56%) infectados por P.malariae/P.brasilianum, três (33%) por P. vivax/P.simium e um (11%) por P.malariae/P.brasilianum e P. vivax/P.simium (infecção mista)). A presença de plasmódio nesses animais de cativeiro aponta para a circulação de plasmódio na região, confirmada pela investigação do óbito de um primata de vida livre do gênero Alouatta que teve amostra positiva para P.simium/P.vivax no exame molecular. Este estudo descreve, pela primeira vez, a infecção de primatas da família Cebidae com P. simium