A hepatite C na Internet e suas implicações na relação terapêutica: a perspectiva do médico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Reis, Bianca Vieira
Orientador(a): Estellita-Lins, Carlos Eduardo Freire
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/6187
Resumo: Este trabalho analisa a percepção médica a respeito dos efeitos gerados pela apropriação, por parte dos pacientes, das informações em saúde disponíveis na Internet. Nosso foco analítico privilegia seu impacto na relação médico-paciente, entendida como uma relação terapêutica. Desse modo, escolhemos como objeto de estudo o cuidado médico aos portadores de hepatite C. Mais especificamente, os aspectos comunicacionais presentes na interação, necessariamente prolongada, entre o médico hepatologista - ramo da clínica que estuda e trata as patologias do fígado - e seus pacientes portadores do VHC, vírus da hepatite C. Nos filiamos às abordagens sobre a assistência aos doentes crônicos que têm valorizado o papel do doente como ator, tanto na construção negociada da definição da doença (seu diagnóstico), quanto na organização social do tratamento. Essa visão é mais sensível à existência de diferentes tipos de médicos e pacientes que estabelecem interações diversas e não um modelo único de relação. Fatores como a especialidade do médico, o status sócioeconômico do paciente e seu nível de instrução, a situação institucional da consulta, isto é, se ocorre na clínica privada, se é mediada por planos de saúde, ou se acontece no sistema público, resultam em interações muito distintas. Por isso, os impactos da Internet, como um instrumento de mediação na relação médico-paciente, precisam ser qualificados em termos de cada tipo de doença, das práticas terapêuticas disponíveis e dos contextos sociais e institucionais em que ocorre. Nossa pesquisa empírica baseou-se em estudo qualitativo, a partir de entrevistas individuais semi-estruturadas em profundidade com nove hepatologistas, sete que atuam na da rede pública e privada e dois que atuam na rede privada, mas que tiveram experiência anterior de mais de vinte anos em hospitais de referencia em Hepatologia do SUS. O caráter crônico da hepatite C, as formas de tratamento, o monitoramento dos efeitos colaterais e dos riscos letais que lhe são inerentes, formam circunstâncias que, tal como acontece com outras morbidades crônicas, permitem aos doentes portadores do VHC um envolvimento emocional e cognitivo prolongado com essa moléstia. Isso explica o aparecimento de grupos de apoio e redes sociais que se organizam em torno de pautas comuns aos enfermos, reivindicando a ampliação da assistência médica e dos recursos terapêuticos junto ao Estado. No discurso dos hepatologistas sobre os principais problemas relacionados aos usos das informações em saúde na Internet, destacamos: a) o paciente não consegue filtrar as informações genéricas e tem dificuldade de entender que os dados encontrados podem não refletir sua situação de saúde; b) eles nem sempre conseguem reconhecer as fontes de informações confiáveis, distinguindo a boa informação da ruim e/ou sem veracidade, ou distorcida; c) o paciente nem sempre consegue entender o que leu, ou extrair da informação o que lhe convém. Algumas vezes, valoriza os aspectos negativos da informação; d) O paciente nem sempre tem estrutura psicológica para lidar com o conteúdo a que teve acesso.