Panorama epidemiológico da malária no Haiti de 2007 a 2018 e evidências de ocorrência da transmissão na ilha de Ile-à-Vache

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Jules, Jean Ricardo
Orientador(a): Suárez Mutis, Martha Cecilia, Alencar, Jeronimo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/55202
Resumo: O Haiti e a República Dominicana, que partilham a ilha Hispaniola, são os únicos países região do Caribe onde a malária autóctone ainda é endêmica. Mais de 99% dos casos de malária são causados por Plasmodium falciparum Welch, 1897; o principal vetor é Anopheles (Nyssorhynchus) albimanus Wiedemann, 1821 (Diptera, Culicidae). Embora estudos mostrem que a malária ocorre em todas as regiões do Haiti, existem áreas onde os perfis entomológico e epidemiológico da malária ainda não são estudados. Uma dessas áreas é a Ile-à-Vache, uma das ilhas adjacentes do Haiti. Ile-à-Vache é um município do Haiti endêmico para a malária, porém a dinâmica da transmissão, inclusive a fauna anofélica, é desconhecida cientificamente até hoje. Neste estudo, descrevemos o perfil epidemiológico da malária no Haiti entre 2009 e 2018, assim como apresentamos as evidências de ocorrência de malária no município de Ile-a-Vache, através de dados epidemiológicos e entomológicos, avaliando o nível de risco local da doença a cada três anos, de 2007 a 2018. O presente trabalho foi realizado em duas escalas: (i) Escala do Estado do Haiti e (ii) Escala do Município de Ile-à-Vache. A primeira escala se constitui de uma descrição, a partir de dados secundários dos sistemas de informações oficiais do país e da OMS, do perfil epidemiológico da malária no Haiti. Nessa etapa do estudo, apontamos as dificuldades do sistema de saúde local para lidar com os dados da malária. Na segunda escala foi feita uma descrição de uma série histórica de casos de malária no Município de Ile-à-vache, apresentando evidências de ocorrência de malária autóctone nessa ilha, a partir de dados epidemiológicos e entomológicos coletados no campo. Entre 2009 e 2018, 232.479 casos de malária foram notificados pelo Ministério de Saúde Pública e População (Ministère de la Santé Publique et de la Population em Francês-MSPP). Uma tendência de queda na incidência de malária no Haiti foi observada entre 2011 a 2018. Quanto ao município de Ile-à-Vache, no período de 2007 a 2018, um total de 3.393 casos confirmados de malária foi registrado pelo Centro de Saúde de Ile-à-Vache numa população média de 14.699 habitantes, equivalente a uma incidência parasitaria anual média de 19,3 casos por 1.000 habitantes, o que a classificaria como área de alto risco epidemiológico. No entanto, a partir do ano de 2013 houve um declínio do risco, passando de risco moderado (entre 2013 e 2014) a risco baixo em 2016, seguido de risco zero de 2016 a 2017, e voltou para o risco baixo em 2018, com apenas um caso de malária. Foram observados 23.612 anofelinos imaturos durante três períodos de coletas no município de Ile-à-Vache. Dessa quantidade observada, foram coletados 6.785 imaturos (entre L3 e pupa), dos quais emergiram 2.761 anofelinos adultos. Dos anofelinos identificados no município de Ile-à-Vache, 100% foram Anopheles albimanus. Este estudo enfatizou a necessidade de promover a coleta e análise de dados oficiais, bem como a aplicação da vigilância epidemiológica da malária, em nível municipal para um melhor entendimento do real impacto da malária na população haitiana e para a criação de intervenções mais adequadas