Reconstrução de padrões paleopatológicos dentais em agricultores incipientes e desenvolvidos do litoral dos Andes Centrais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lanfranco, Luis Nicanor Pezo
Data de Publicação: 2010
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41131/tde-12052010-142447/
Resumo: A introdução da agricultura tem sido reconhecida como uma das mais importantes mudanças no modo de vida da humanidade. Indicadores osteológicos e dentais são utilizados pela arqueologia para avaliar mudanças no padrão subsistencial associado com alterações na organização social. No entanto, a multiplicidade de meio-ambientes e a grande variabilidade dos processos culturais, tornam a reconstrução de subsistência um assunto complexo. Assim, ainda não é clara a caracterização dos perfis paleopatológicos dentários de populações com estratégias mistas de obtenção de recursos alimentares. Neste trabalho avaliam-se, desde uma perspectiva comparativa, mudanças e continuidades de indicadores paleopatológicos orais (cárie dental, doença periodontal e padrões de desgaste dental) de quatro populações assentadas no litoral dos Andes Centrais. Três das populações pertencem ao Período Formativo (2500-1 a.C), durante o qual se acredita ter ocorrido o início da agricultura e a complexificação social. A quarta população assume o papel de grupo controle, uma vez que pertence ao Período de Desenvolvimentos Regionais Tardios (PDRT,1000-1440 d.C), caracterizado pelo auge do desenvolvimento agrícola e uma organização social hierarquizada. Estes quatro grupos prestam-se bem a testes de hipótese sobre qual o impacto que mudanças alimentares causam na dentição, pois a subsistência do primeiro e do último deles é bem conhecida. Assim, o grupo mais antigo constitui-se de pescadores-horticultores, enquanto o último é formado por agricultores plenos. Os demais grupos apresentam subsistência intermediária. Testam-se seis hipóteses, que, com o aumento do desenvolvimento agrícola acarretariam em: 1) um incremento na freqüência e prevalência de cárie e AMTL; 2) um aumento na velocidade de desenvolvimento das lesões de cárie; 3) uma mudança na localização de cáries (de oclusais para extra-oclusais); 4) um incremento na prevalência e gravidade da doença periodontal; 5) uma diminuição do desgaste dental e 6) a presença de hábitos de mascar coca e consumir chicha no período mais tardio. Como não há diferenças significativas entre as freqüências de lesões cariosas e AMTL entre os grupos, rejeita-se a hipótese 1. Por outro lado, a profundidade da cárie aumenta, assim como se verifica uma mudança de cáries oclusais para extra-oclusais. Entretanto, hipóteses 2 e 3 só podem ser corroboradas levando-se em consideração o desgaste dental. A hipótese 4 foi parcialmente confirmada e finalmente, as hipóteses 5 e 6 foram totalmente confirmadas. Dentre os indicadores estudados, as cáries de dentina e as extra-oclusais são os que refletem de maneira mais confiável a cariogenicidade. Os modelos paleopatológicos inferidos para cada grupo acusam diferenças significativas entre os períodos iniciais (com dietas em trânsito à agricultura) e os dois mais tardios (com dietas predominantemente compostas de vegetais cultivados). Os resultados obtidos são discutidos do ponto de vista biológico e sociocultural, com apoio em dados arqueológicos, etnohistóricos e etnográficos. As diferenças são atribuídas principalmente à mudanças na tecnologia de preparo de alimentos e à introdução de novos produtos e hábitos.
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Neste trabalho avaliam-se, desde uma perspectiva comparativa, mudanças e continuidades de indicadores paleopatológicos orais (cárie dental, doença periodontal e padrões de desgaste dental) de quatro populações assentadas no litoral dos Andes Centrais. Três das populações pertencem ao Período Formativo (2500-1 a.C), durante o qual se acredita ter ocorrido o início da agricultura e a complexificação social. A quarta população assume o papel de grupo controle, uma vez que pertence ao Período de Desenvolvimentos Regionais Tardios (PDRT,1000-1440 d.C), caracterizado pelo auge do desenvolvimento agrícola e uma organização social hierarquizada. Estes quatro grupos prestam-se bem a testes de hipótese sobre qual o impacto que mudanças alimentares causam na dentição, pois a subsistência do primeiro e do último deles é bem conhecida. Assim, o grupo mais antigo constitui-se de pescadores-horticultores, enquanto o último é formado por agricultores plenos. Os demais grupos apresentam subsistência intermediária. Testam-se seis hipóteses, que, com o aumento do desenvolvimento agrícola acarretariam em: 1) um incremento na freqüência e prevalência de cárie e AMTL; 2) um aumento na velocidade de desenvolvimento das lesões de cárie; 3) uma mudança na localização de cáries (de oclusais para extra-oclusais); 4) um incremento na prevalência e gravidade da doença periodontal; 5) uma diminuição do desgaste dental e 6) a presença de hábitos de mascar coca e consumir chicha no período mais tardio. Como não há diferenças significativas entre as freqüências de lesões cariosas e AMTL entre os grupos, rejeita-se a hipótese 1. Por outro lado, a profundidade da cárie aumenta, assim como se verifica uma mudança de cáries oclusais para extra-oclusais. Entretanto, hipóteses 2 e 3 só podem ser corroboradas levando-se em consideração o desgaste dental. A hipótese 4 foi parcialmente confirmada e finalmente, as hipóteses 5 e 6 foram totalmente confirmadas. Dentre os indicadores estudados, as cáries de dentina e as extra-oclusais são os que refletem de maneira mais confiável a cariogenicidade. Os modelos paleopatológicos inferidos para cada grupo acusam diferenças significativas entre os períodos iniciais (com dietas em trânsito à agricultura) e os dois mais tardios (com dietas predominantemente compostas de vegetais cultivados). Os resultados obtidos são discutidos do ponto de vista biológico e sociocultural, com apoio em dados arqueológicos, etnohistóricos e etnográficos. As diferenças são atribuídas principalmente à mudanças na tecnologia de preparo de alimentos e à introdução de novos produtos e hábitos.Agriculture has been recognized as one of the most important factors that changed human life style. Osteological and dental markers have been used to evaluate subsistence shifts, paleodiets, technological development and social organization. However, the main problem that persists in reconstructing subsistence in ancient populations is the multiplicity of environments and the great variability of cultural processes. Consequently, the characterization of the dental paleopathological profiles of populations with mixed diet needs further investigation. This thesis aims at comparing the oral pathology among four pre-Columbian groups with different degrees of agricultural and socio-cultural development, but comparable ecological conditions who lived at the coastal desert of Peru. Three of the groups belong to the Formative period (2500-1 BC.), a critical time for understanding the development of agriculture and social complexity, while the fourth group is assigned to the Late Regional Development period (1000-1470 AD), when agriculture had its apogee and society was highly stratified. These groups represent a unique possibility to test hypotheses on the impact of dietary changes on the dentition, since the subsistence pattern of the earliest and latest periods are well known. Accordingly, the first were fisher-horticulturalists, whereas the last one subsisted on a well established irrigation agriculture. The remaining groups presented intermediate paleodietary profiles. Six hypotheses were tested, according to which an increase in agricultural development would lead to: 1) an increment of the frequency and prevalence of carious lesions and antemortem tooth loss (AMTL); 2) an increase in the caries depth; 3) a shift from occlusal to extra-occlusal caries; 4) an increase in the prevalence and severity of periodontal disease; 5) a decrease in dental wear, and, finally 6) the presence of coca chewing and chicha drinking habits in the most recent period. As there are no significant differences between the caries and AMTL frequencies among the groups, hypothesis 1 is rejected. On the other hand, caries depth increases, and there is a shift from occlusal to extra-occlusal caries. Hypotheses 2 and 3, thus, are corroborated, but only if considering dental wear. Finally, hypotheses 4 is partially confirmed, and hypotheses 5 and 6 are completely confirmed. Among the markers studied, dentin and extra-occlusal caries best reflect cariogenicity. The paleopathological profiles inferred for each group show considerable differences between the two initial periods (with incipient agriculture) and the two later periods (with diets based on domesticated plants). The differences seen are attributed mainly to shifts in preparation techniques and the introduction of new, more cariogenic foodstuffs and habits. The results obtained are discussed in the light of biological, sociocultural, archaeological and ethnographic evidences.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPEggers, SabineLanfranco, Luis Nicanor Pezo2010-05-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41131/tde-12052010-142447/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:07Zoai:teses.usp.br:tde-12052010-142447Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:07Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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