História ambiental envolvendo indígenas Guarani e Jesuítas nas reduções da Província do Tape, século XVII

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Cristo, Tuani De lattes
Orientador(a): Laroque, Luís Fernando da Silva lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: PPGAD;Ambiente e Desenvolvimento
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
CB
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10737/2473
Resumo: Os Guarani pertencem ao tronco linguístico Tupi, viviam em territórios do atual Estado do Rio Grande do Sul desde o início da Era Cristã. No século XVII os referidos territórios passaram a ser ocupados pelo elemento europeu, inicialmente representado por padres da Companhia de Jesus, configurando a Província do Tape, denominação político-espanhola. O estudo tem como objetivo demonstrar, com base na História Ambiental, que a Província do Tape foi palco de negociações territoriais entre os coletivos Guarani e a Companhia de Jesus, ambos fundamentados em lógicas culturais distintas. Os indígenas fundamentados na lógica do ñande reko (modo de ser), ao qual estão integrados espíritos, plantas, animais e divindades, já os jesuítas fundamentados em uma relação ocidental com o território. A metodologia utilizada baseou-se na abordagem da Etno-história e da História Ambiental, com o cunho qualitativo e descritivo. Os procedimentos metodológicos consistem em revisões bibliográficas sobre a temática e pesquisa documental das Cartas Ânuas escritas pelos padres jesuítas no século XVII, material compilado por Jaime Cortesão (1969), Hélio Vianna (1970) e Ernesto Maeder (1984). Como resultados, tendo por base aportes teóricos da História Ambiental, territorialidade e cultura, foi possível constatar que os Guarani se fundamentaram na lógica cultural do ñande reko para viver suas historicidades e sentidos de territorialidade, mas a partir dos contatos com o projeto político-colonial e religioso da Companhia de Jesus, ressignificações culturais foram postas em prática por ambos os grupos. Os Guarani, com base no seu modo de ser, buscavam aspectos econômicos, cosmológicos e na memória parental; os jesuítas, por sua vez, imbuídos de conhecimentos ocidentais, possuíam uma visão “materialista”, observando no território potencialidades de autossuficiência e produção econômica para sustentar o projeto missionário. Para compreensão das diferentes visões, foi possível descrever os ambientes onde as reduções jesuíticas foram erguidas, corroborando com a hipótese de que a Companhia de Jesus buscava no território uma maior potencialização dos recursos naturais, visando à autossuficiência e produção de excedentes. Demonstrou-se que a introdução dos espaços missionais causaram impactos ambientais sentidos por Guaranis e missionários, a exemplo de ataques de ratões-do-banhado (Myocastor coypus) e de formigas (Formicidae), as roças das reduções e ainda os possíveis impactos causados a partir da introdução do gado vacum (Bos taurus) em territórios da Província do Tape. Com base na análise dos eventos narrados por jesuítas nas Cartas Ânuas, a investigação constatou que a Companhia de Jesus necessitou “negociar” a instalação do seu projeto político-econômico e religioso com as parcialidades Guarani e seus coletivos, tais como animais, plantas e espíritos. Isto ocasionou uma disputa por território no campo dos humanos e da natureza, tendo em vista que espécies vegetais e animais introduzidas pelos jesuítas também precisaram “barganhar” espaço com as espécies endêmicas. Constatou-se assim, que a Província do Tape durante o século XVII foi palco de diversas historicidades ambientais e cosmológicas, permeadas por transformações, mas também por apropriações entre os envolvidos.