Análise do impacto do treinamento aeróbico de resistência versus anaeróbico de força na fisiologia e morfologia cardíaca de atletas de alto rendimento através da ecocardiografia com speckle tracking
Ano de defesa: | 2022 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | , , |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Curitiba |
Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: | |
Área do conhecimento CNPq: | |
Link de acesso: | http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/30261 |
Resumo: | As diversas modalidades esportivas determinam diferentes padrões de remodelamento cardíaco. A ecocardiografia bidimensional é o método de imagem mais utilizado para avaliação das adaptações anatômicas e funcionais relacionadas ao exercício físico nas diversas modalidades esportivas. Entretanto, a acurácia dos índices ecocardiográficos tradicionais utilizados para avaliação da função miocárdica pode ser impactada por diferentes fatores, como pré e pós-carga aos ventrículos, geometria do ventrículo esquerdo (VE) e alta variabilidade interobservador. A ecocardiografia com speckle tracking é uma tecnologia recentemente incorporada na prática clínica que apresenta vantagens em relação aos índices ecocardiográficos tradicionais e tem demonstrado maior acurácia na detecção precoce das alterações da função miocárdica em diversas doenças cardiovasculares. Entretanto, sua utilidade no diagnóstico e acompanhamento das alterações funcionais do músculo cardíaco em atletas ainda não está bem estabelecida. Realizamos um estudo transversal descritivo com o objetivo de comparar os achados de ecocardiografia bidimensional com speckle tracking entre atletas de força e atletas de resistência. Realizou-se um ecocardiograma bidimensional completo, incluindo a determinação do strain longitudinal global dos ventrículos esquerdo (SLGVE) e direito (SLGVD) pelo speckle tracking. Os dados estão descritos como média±DP ou mediana e intervalo interquartil. Para a comparação das médias entre os dois grupos utilizamos o teste t não pareado para variáveis com distribuição normal e, alternativamente, o teste de Mann-Whitney para variáveis de distribuição não paramétrica. Avaliamos a capacidade de um modelo composto por múltiplas variáveis independentes de predizer a variável dependente categórica por regressão logística. Os dados foram analisados utilizando-se o programa estatístico MedCalc para Windows (MedCalc Software, Ostend, Belgium, versão 20.0), com o limite de significância estatística definido em 0,05. A amostra foi composta por trinta e sete atletas do sexo masculino, sendo 20 maratonistas e 17 atletas de força. A idade média foi de 37±8 anos no grupo de resistência e 34±12 anos no grupo de força (p=NS), respectivamente. Os atletas do grupo de força tiveram maior peso [91,4 (86 a 103) vs. 71,4 (65 a 75) kg, p<0,0001], maior área de superfície corporal [2,09 (2,0 a 2,2) vs. 1,85 (1,7 a 1,9) m2, p<0,001], maior índice de massa corporal [30,1 (26,7 a 32,1) vs. 22,8 (22,1 a 24,2), p<0,001] e maior frequência cardíaca em repouso [72 (66 a 82) vs. 59 (53 a 67) bpm, p<0,001] do que os atletas maratonistas. A massa ventricular esquerda foi maior no grupo de força [196,2 (160 a 213) vs. 167,9 (147 a 163) g, p=0,018], porém com índice de massa ajustado a superfície corpórea [90,4 (74 a 102) vs. 87,0 (81 a 99) g/m2, p=NS] e espessura relativa da parede (ERP) ventricular esquerda [0,37 (0,34 a 0,39) vs. 0,33 (0,32 a 0,39), p=NS] não apresentando diferenças estatísticas significativas entre os grupos. Os atletas de resistência apresentaram maiores volumes indexados do átrio esquerdo [34,3 (30 a 43) vs. 29,5 (23 a 31) mL/m2, p=0,003] e do átrio direito [26,9 (21 a 37) vs. 21,3 (18 a 25) mL/m2, p=0,005], maior diâmetro basal do ventrículo direito [39,7 (38 a 43) vs. 37,7 (35 a 40) mm, p=0,023] e maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) pelo método Simpson [61,4 (57 a 67) vs. 56,8 (53 a 62)%, p=0,021]. A análise da função diastólica do VE não apresentou diferenças significativas entre os grupos. Tanto o SLGVD [19,7 (17 a 22) vs 17,6 (15 a 18)%, p=0,035] quanto o SLGVE [18,4 (17 a 19) vs 16,8 (15 a 17)%, p=0,001] foram significativamente maiores nos atletas de resistência. Utilizando-se um modelo multivariado, o SLGVE, a massa do VE e o volume indexado do AE foram variáveis independentes que se associaram ao fenótipo (força=1 ou resistência=0). O modelo preditivo com estas 3 variáveis apresentou uma AUC = 0,94 (IC95% 0,82 a 0,99, p<0,001)). O SLGVE associou-se ao fenótipo mesmo quando corrigido pela idade e FEVE [OR=0,48 (0,28-0,81), p=0,006]. Conclui-se que atletas apresentam adaptações morfológicas cardíacas diretamente relacionadas com a modalidade de treinamento realizado. Em nosso estudo, o SLGVE foi variável independente e estatisticamente significante mesmo quando corrigido pela idade e FEVE, o que sugere a sua utilização na avaliação ecocardiográfica de atletas de alto rendimento. Valores do SLGVE menores encontrados para os atletas de resistência necessitam de estudos posteriores para identificar quais fatores, além do treinamento, contribuem para esse achado. |