Discursos sobre moradia no jornalismo on-line: valoração, apagamento e reenunciação discursiva

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Padilha, Paula Caroline Zarth lattes
Orientador(a): Rohling, Nivea lattes
Banca de defesa: Rohling, Nivea, Rodrigues, Rosângela Hammes, Lima, Marcelo Fernando de
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Curitiba
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/4258
Resumo: A presente pesquisa buscou compreender os discursos sobre o direito à moradia, produzidos em notícias, reportagens e comentários do jornalismo on-line. A ancoragem epistemológica contempla a elaboração teórica do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 1993 [1965]; BAKHTIN, 2008 [1963]; BAKHTIN, 2010 [1920]; BAKHTIN, 2015 [1930]; BAKHTIN, 2016 [1978]; MEDVIÉDEV, 2012 [1928]; VOLÓCHINOV, 2017 [1929]; VOLOCHÍNOV, 2013 [1930]) e comentadores contemporâneos (ACOSTA PEREIRA, 2013; BEZERRA, 2015; BRAIT, 2007; FARACO, 2009; GRILLO, 2017; RODRIGUES, 2005; ROHLING, 2014). Os dados compõem-se de cadeias enunciativas tendo como acontecimento disparador a Ocupação Povo Sem Medo, em São Bernardo do Campo (SP), ocorrida no período de setembro de 2017 a abril de 2018. As cadeias enunciativas, objeto deste estudo, foram analisadas a partir dos conceitos de enunciado, dialogismo, signo e horizonte apreciativo/valorativo, considerando sua circulação na esfera jornalística. Para o recorte de dados, foram selecionados textos produzidos nos sites de notícias G1, Veja.com e Rede Brasil Atual, bem como os respectivos comentários on-line de leitores. Para situar a grande temporalidade dos discursos com relação à mobilização por moradia, acionamos o histórico delineado por Rolnik (2015), Harvey (2012) e Engels (2015 [1872]). Além disso, o estudo mobiliza teórico-metodologicamente a Análise Dialógica de Discurso (ADD) para observação e análise das regularidades discursivas salientes nas cadeias enunciativas nas notícias, reportagens e comentários on-line que consolidam o horizonte valorativo sobre a temática e os sujeitos sociais envolvidos, mediadas pelas novas tecnologias utilizadas pelo jornalismo em plataformas on-line. Nesse contexto discursivo, as tecnologias digitais possibilitam a amplificação de reacentuações das notícias e reportagens por meio de comentários on-line. Para debater os aspectos relacionados ao campo da Comunicação Social, mais especificamente do jornalismo, utilizamos a teoria de Genro Filho (1987), Habermas (2014) e Schwingel (2012). Como regularidades mais salientes que emergiram dos dados, observou-se que: 1) o entendimento da moradia como propriedade aparece de maneira mais saliente na mídia, especialmente a hegemônica; 2) o cronotopo dos discursos da moradia como direito é pautado pela mídia que faz a contra-narrativa; 3) os leitores-comentadores se enunciam de forma depreciativa no tocante à mobilização e os sujeitos da ocupação; 4) Das regularidades observadas, a presente pesquisa identificou nos dados um processo de apagamento e invisibilização da mobilização por moradia. Emerge, ainda, o tangenciamento do debate sobre moradia. Dos dois cronotopos de discurso sobre moradia analisados, sendo o primeiro seu entendimento como propriedade e o segundo como direito, outros objetos de discurso são apresentados pela mídia e revozeados por comentadores: a criminalização e marginalização do sujeito sem-teto e o enfoque das pautas em atores sociais notórios são as saliências desse diferente horizonte apreciativo sobre a Ocupação Povo Sem Medo. A constituição identitária do sujeito sem-teto se dá, portanto, pelas relações heterodiscursivas com leitores/comentadores, a partir da produção das notícias e das reportagens: o sujeito é referenciado como vagabundo, invasor, não quer pagar pela moradia. Uma contra-narrativa também se apresenta como a reafirmação discursiva sobre si mesmo, de um sujeito sem-teto trabalhador, em situação de desemprego, que busca na ocupação uma opção financeira viável para morar.