Efeitos à saúde por exposição ambiental e ocupacional aos pesticidas de uso agrícola

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Buralli, Rafael Junqueira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6143/tde-20022020-082631/
Resumo: Introdução: O uso excessivo e descuidado de pesticidas tem se tornado um problema global de saúde pública, especialmente nos países de baixa e média renda. O Brasil é o maior consumidor mundial de pesticidas desde 2018, mas poucos estudos epidemiológicos exploram os seus efeitos à saúde. Objetivos: Avaliar os efeitos da exposição aos pesticidas à saúde de agricultores familiares em São José de Ubá (SJU), Estado do Rio de Janeiro, e analisar os efeitos respiratórios em crianças por exposição aos pesticidas, a partir de revisão da literatura. Métodos: Na safra de 2014, 82 agricultores familiares convenientemente selecionados foram entrevistados sobre a exposição aos pesticidas e submetidos à avaliação clínica com anamnese, avaliação respiratória (questionário e espirometria) e rastreamento de saúde mental (SRQ-20). Analisou-se as enzimas colinesterase (AChE e BChE) como biomarcadores de efeito. A avaliação respiratória foi repetida na entressafra de 2015 para comparação entre os períodos de maior e menor uso de pesticidas. Os participantes foram comparados com valores de referência e entre os grupos ocupacionais (aplicadores ou ajudantes) e os efeitos respiratórios foram analisados por regressão múltipla. Para ampliar o olhar aos riscos da exposição ambiental, realizou-se uma revisão sistemática sobre os efeitos dos pesticidas à saúde respiratória de crianças. Resultados: Os agricultores familiares avaliados em SJU estavam ocupacionalmente e ambientalmente expostos aos pesticidas desde tenra idade, trabalhavam sem apoio técnico e uso de equipamentos de proteção individual (EPI) completo, estavam expostos a complexas misturas de pesticidas frequentemente e apresentaram diversos sintomas de intoxicação aguda, mentais, respiratórios e alterações na espirometria. No geral, observou-se uma maior prevalência de efeitos respiratórios na safra do que na entressafra e associações significativas entre alterações espirométricas e os indicadores de exposição tanto na safra quanto na entressafra. Enquanto os aplicadores eram principalmente homens e apresentaram mais alterações de BChE, os ajudantes eram majoritariamente mulheres, tiveram ainda menos treinamento, usavam menos EPI e relataram maior prevalência de sintomas de intoxicação, saúde mental e o dobro apresentou um possível transtorno mental comum (depressão e ansiedade). A revisão da literatura sobre efeitos da exposição aos pesticidas agrícolas à saúde infantil apresentou vasta evidência sobre efeitos respiratórios e alérgicos. Conclusões: É fundamental melhorar o apoio técnico e treinamento ocupacional dos agricultores familiares brasileiros e promover práticas laborais e alternativas de cultivo mais sustentáveis. São necessários mais estudos sobre os efeitos dos pesticidas à saúde dos agricultores familiares e à saúde respiratória de crianças no Brasil e em outros países de menor renda, que usam métodos mais convencionais de cultivo e possuem maior população infantil no campo. Recomenda-se o fortalecimento de políticas públicas e a implementação de ações integrais e transversais a todos os níveis de atenção à saúde e áreas de governo, além da promoção de estratégias mais abrangentes de mitigação de riscos e intervenções comportamentais para reduzir o uso de pesticidas, a exposição e os riscos à saúde.