A era do preparo: hiperformatividade e instrumentalização dos modos de existir

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Bocchetti, André
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-13082013-163927/
Resumo: A pesquisa tem por objeto de estudo as dispersões das racionalidades formativas: o modo como, em nossa época, a ideia de formação, compreendida como ato de interferência educativa nos modos de existir individuais e/ou coletivos, tem-se difundido em espaços e relações cada vez mais cotidianas que em muito ultrapassam o ambiente escolar. Levando em conta o contexto dos estudos de base pós-estruturalista realizados, sobretudo, a partir das análises foucaultianas, o trabalho se pauta no mapeamento de saturações discursivas em torno da questão da formação, encarando-a como um elemento fundamental das razões biopolíticas que encontraram na vida individual, principalmente a partir da emergência do liberalismo, algumas possibilidades efetivas de se governar. De inspirações cartográficas e a partir de uma releitura do conceito de mitologia de Roland Barthes, o estudo focaliza, em um primeiro momento, a identificação do que foram considerados mitos formativos fundamentais representações de representações que constroem figuras socialmente naturalizadas associadas, no caso, à formação docente. A partir dessas reflexões, donde derivaram seis mitos formativos essenciais a formação complexa, a formação múltipla, a formação mensurável, a formação competente, a formação aconselhável, a formação reformável , busca-se na segunda etapa de pesquisa definir a maneira como tal mitologia se dispersa, por um lado, em discursos oficiais, tomados de dispositivos da legislação educacional e produções de organismos internacionais e, por outro, em falas cotidianas dispersas, voltadas à formação para a vida e para o trabalho, mediante a análise de exemplares de um periódico semanal de grande circulação nacional e de transcrições de discussões promovidas no âmbito de um evento pautado na formação do trabalhador. As análises permitiram a construção de um mapa de operações discursivas capazes de integrar a formatividade a questões associadas à laboralidade e aos modos de existir. Do que resulta a construção de um amálgama que, se por determinados movimentos promove a valorização de um sentido moral da formatividade já presente na noção iluminista de bildung, atualizando-a e imprimindo-lhe algumas inversões, por meio de outros integra tais produções em um caminho de preparo pessoal. Esse caminho termina por imprimir ao ato de formar(-se) uma ênfase acima de tudo instrumental, convertendo o bom homem em um bom trabalhador e garantindo a sua própria existência um sentido, acima de tudo, funcional. A viabilização das racionalidades que possibilitam tal configuração se dá a partir de processos dispersivos inerentes ao dispositivo da formação atual: há dispersões pela complexidade, pela chancela social, pela liquidez das aquisições, pelo engajamento individual, pela qualificação de saberes e pela parceria coletiva. Tais modos de espalhamento terminam por dar à questão formativa contemporânea traços epidêmicos, capazes de englobar a cotidianidade a partir de razões que estão, antes de tudo, associadas a formas de consumir e de permanecer mercadologicamente viável: uma hiperformatividade, portanto, capaz de converter a própria vida em um processo constante de preparação para algo.