Desbravando os sertões da Piedade: terra e trabalho no Vale do Paraíba cafeeiro (Bananal, c.1800-1880)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Moreno, Breno Aparecido Servidone
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-03102022-113831/
Resumo: Esta tese investiga a dinâmica da cafeicultura escravista em Bananal, no Vale do Paraíba, entre 1800 e 1880, nos períodos de sua formação, expansão, apogeu e sobrevida. Para cumprir esse propósito, utilizamos um amplo repertório documental, do qual se destacam: o inventário dos bens rústicos (1819); o registro de terras (1855-8); as listas nominativas de habitantes (1801, 1817, 1829); os inventários post mortem (1806-79); o censo demográfico (1854); e a lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipação (1873). Por meio dessas fontes, examinamos a estrutura fundiária e o perfil dos senhores de terras; a estrutura da posse cativa; o quadro produtivo das propriedades cafeeiras e os padrões de exploração da força de trabalho escravizada. Pretende-se demonstrar que a concentração fundiária, no Vale do Paraíba, oriunda do legado colonial da América portuguesa, seria, mais tarde, na expansão da cafeicultura escravista, um dos vetores decisivos para a melhor competitividade do café brasileiro no mercado mundial. Ela permitiu concatenar a exploração extensiva dos recursos naturais com a exploração intensiva dos escravizados. Na primeira metade do século XIX, os grandes proprietários rurais que, desde 1810, controlavam parcela substantiva do território de Bananal acumularam e concentraram a propriedade cativa, majoritariamente africana, masculina e em idade produtiva. Nesse período, ampliaram de maneira assombrosa os padrões de sobre-exploração da mão de obra, ao estruturarem uma planta produtiva cafeeira inédita, que rompeu com os padrões vigentes no Caribe. Esse processo ocorreu até o início dos anos 1850, quando se verifica uma estabilização nesses índices. O período de 1850 a 1870 foi marcado por mudanças importantes nas propriedades rurais do Vale do Paraíba. De um lado, a abolição do tráfico transatlântico de escravizados (1850) atenuou os desequilíbrios estruturais na demografia escrava, favorecendo o crescimento natural moderado dessa população. De outro lado, com o encarecimento dos custos relativos de produção, os cafeicultores deixaram de investir na ampliação das lavouras. Na década de 1870, dois fatores provocaram a redução nos custos de produção: a alta nos preços do café em relação ao preço dos cativos e a chegada dos ramais da Ferrovia D. Pedro II. Com isso, os cafeicultores voltaram a expandir suas plantações. Mas, os municípios da porção ocidental do Vale do Paraíba (Areias, Queluz, Bananal, Vassouras, Resende, Barra Mansa, Rio Claro, São João Marcos, Piraí) não conseguiram atender a crescente demanda de café no mercado mundial, perdendo competitividade frente às novas zonas de produção: Oeste de São Paulo e a tríplice fronteira (norte fluminense, sul capixaba e Zona da Mata Mineira). Aquela região do Vale explorada de forma ininterrupta desde 1820 apresentava poucas possibilidades de expansão: solos esgotados, produtividade declinante dos pés e baixa oferta de terras em mata virgem. Na virada de 1860 para 1870, já era visível a devastação ambiental. Mesmo assim, os grandes fazendeiros continuaram a derrubar a mata e, dada a dificuldade de conseguir mão de obra, com o envelhecimento das escravarias, aumentaram os padrões de sobre-exploração dos cativos. Deste modo, a conjuntura favorável à expansão da cafeicultura levou à derrocada as fazendas do Vale do Paraíba Ocidental, acelerando a crise institucional da escravidão no Império do Brasil