Quem não chora não mama? um estudo da reação à rejeição materna em infantes de macacos-prego (Sapajus libidinosus)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Cera, Mábia Biff
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-01092023-170658/
Resumo: O cuidado materno tem papel fundamental na vida de infantes de primatas. A mãe é a principal rota de transferência de nutrientes, informações e de proteção. Porém, o estabelecimento da independência do filhote é essencial para o sucesso reprodutivo dos pais e para o desenvolvimento do próprio infante. Essa transição implica em processos de maturação fisiológica e comportamental do infante e é um período que pode envolver muitos conflitos comportamentais entre mães e filhotes. Em nosso estudo, investigamos como se desenvolvem os conflitos comportamentais relacionados ao investimento materno entre mães e infantes de macacos-prego (Sapajus libidinosus). Analisamos filmagens dos primeiros 18 meses de vida de 12 infantes de um grupo de uma população selvagem de macacos-prego que habita a Fazenda Boa Vista, no estado do Piauí, Brasil. Testamos se os filhotes continuavam solicitando cuidados da mãe mesmo após o início do estabelecimento da independência alimentar e locomotora e se isso levava a um aumento nos conflitos comportamentais. Testamos também se as reações mais intensas dos infantes à rejeição materna modulavam a resposta da mãe, fazendo com que ela aceitasse as solicitações de cuidado. Nossos resultados mostraram que os infantes continuaram solicitando cuidado durante todo o período analisado. Mas, ao mesmo tempo que os infantes solicitam muito menos cuidado materno quando ficam mais velhos, as mães também se tornam menos responsivas com o passar do tempo. A intensidade e duração das birras dos infantes tiveram efeito negativo na modulação do cuidado materno: quanto mais longas e intensas as birras, menores as chances dos filhotes obterem cuidado. Os conflitos entre mães e infantes são raros, não agressivos e estão presentes desde o início do desenvolvimento. Além disso, a mãe, ao recusar as solicitações dos infantes mesmo diante de protestos, pode estar sinalizando sua indisponibilidade em continuar o investimento materno. Infantes da Fazenda Boa Vista crescem em um ambiente seguro e rico em recursos, e não parecem ser prejudicados pela rejeição da mãe. Por fim, nossos achados indicam que os conflitos comportamentais fazem parte do processo de co-regulação da díade mãe-infante e são um estímulo ao estabelecimento da independência do filhote.