Os lavradores da floresta: um estudo sobre as contradições das políticas públicas de conservação na proteção do modo de vida tradicional.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Santiago, Cristina de Marco
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-06102010-092656/
Resumo: Este trabalho teve por objetivo aprofundar a reflexão e a compreensão sobre a lógica da relação sociedade-natureza nas culturas tradicionais, bem como sobre as contradições existentes nas políticas públicas territoriais de conservação da natureza, no que se refere à valorização do modo de vida tradicional. A pesquisa foi realizada a partir da análise dessas políticas e do estudo de um bairro rural tradicional caipira, o bairro dos Paulo, localizado no município de Ibiúna - São Paulo, na área de abrangência do Parque Estadual do Jurupará. O estudo de caso apresentou os elementos empíricos necessários para aprofundar a compreensão da problemática tratada pela pesquisa, ou seja, a maneira pela qual se processaram os conflitos sociais, em um contexto histórico, entre dois tipos de racionalidade e de modo de vida: um rural tradicional e, outro, contemporâneo, urbano-industrial. O desenvolvimento da pesquisa em campo se deu segundo o método da pesquisa participante, adotando-se a entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados. A análise dos documentos legais e das entrevistas foi realizada com base no método de análise textual discursiva. Foi efetuado ainda o estudo comparativo do uso do solo, das glebas pertencentes à família dos Paulo, em diferentes momentos históricos: 1962, 1978 e 2009, a partir de dados secundários e de fotografias aéreas. Trata-se de um estudo geográfico de abordagem cultural crítica, em que foram definidas três categorias centrais de análise foram definidas: o território, o modo de vida tradicional e as políticas públicas territoriais de conservação da natureza. Categorias estas que, articuladas, possibilitaram identificar as formas de adaptação e a alta capacidade de resistência da cultura caipira frente aos impactos a que foi submetida, particularmente, com as transformações advindas do progresso brasileiro e, posteriormente, com a investida do Estado em criar uma Reserva Florestal, posteriormente transformada em um Parque Estadual em território caipira. A pesquisa demonstrou que os territórios tradicionais se configuram a partir de uma conduta ética diferenciada na relação sociedade-natureza. O modo de vida tradicional reflete saberes e valores que configuram um tipo específico de território, onde sua permanência no tempo, ao longo de sucessivas gerações, bem como a conservação da natureza são condições para a reprodução material e social das chamadas populações tradicionais. Na sua construção histórica, enquanto patrimônio territorial, delineia-se um tipo de gestão e de planejamento específicos, onde princípios, normas, critérios, formas de comando e hierarquias existem calcados em uma forte condição de autonomia, características estas incompatíveis com as diretrizes legais estabelecidas nos territórios de conservação da natureza. Território e modo de vida foram categorias a partir das quais se pôde, ainda, neste estudo, delinear dez premissas para a atuação do Estado junto aos territórios tradicionais caipiras, segundo seus próprios padrões de desenvolvimento, sem o que se entende que não há como falar em reconhecimento e respeito ao modo de vida tradicional. A coerência destas premissas foi discutida tendo-se por referência modelos teóricos de desenvolvimento econômico, considerados compatíveis com as características do território tradicional.