A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Santos, Tiganá Santana Neves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8160/tde-30042019-193540/
Resumo: Esta pesquisa é focada nos Estudos da Tradução, em diálogo, sobretudo, com filosofias e pensares africanos, europeus, latino-americanos e diaspóricos. A partir da tradução do livro de Bunseki Fu-Kiau -- Cosmologia africana dos bantu-kongo: princípios de vida e vivência --, escrito em inglês, para a língua-cultura (luso)brasileira, foi reconhecida a centralidade das sentenças em linguagem proverbial (kingana), originalmente, apresentadas pelo autor de modo bilíngue (kikongo - inglês). A análise tradutória concentrou-se em tais sentenças, e aspectos fulcrais do pensamento bantu-kongo precisaram somar-se à análise em torno do traduzir, para que se pensasse o seu processo, efetivamente, como interação. Princípios filosóficoculturais tais como o do cosmograma kongo (Dikenga dia Kongo), minika ye minienie (ondas e radiações) e o princípio V são alguns dos vetores relevantes para se pensar o sistema bantukongo, bem como para nele entrar por meio da tradução. A acepção de uma tradução negra surge do contato com as sentenças em linguagem proverbial e seu apelo já histórico por um entendimento das diversas camadas de negritude enquanto resposta legítima a um contexto de hegemonias eurocentradas e opressão, inclusive, epistemológica. Cunhou-se a ideia do tradutor- ndoki ou tradutor-feiticeiro como aquela pessoa que, efetivamente, apreende os encontros éticos enquanto articulações ou trabalho com as linguagens a partir da apreensão do real como algo constituído por partes co-pertencentes que, necessariamente, se intercomunicam. Eis a ideia kongo de totalidade: relação estabelecida entre entes, seres, coisas, imaterialidades existentes em qualquer dimensão de realidade. Percebe-se que as sentenças proverbiais, as quais, em culturas ocidentais, enquadram-se nos estudos da paremiologia, apresentam distinções importantes, no que tange ao que se conhece como provérbios. Tais distinções acontecem em termos estruturais, na sua aplicação, na sua linguagem e performance, na sua contextualização e na sua repercussão social. Por essa razão, optou-se pelo emprego da expressão sentenças em linguagem proverbial (kingana, em kikongo -- língua dos bantu-kongo ou bakongo), em lugar de se utilizar o termo provérbio. No que diz respeito a culturas ocidentais, constatou-se que as sentenças em linguagem proverbial aproximam-se mais dos aforismos, diante do seu prevalente caráter filosófico. No entanto, é preciso atentar para o fato de que filosofias presentes no continente africano (bantu, yoruba, etc.) também são evocadas, a fim de que se configure uma discussão teórica mais simétrica e que, sem pretensões de universalidade ou resolução, possase contribuir para as reflexões sobre o traduzir.