Patogenia de envolvimento do coração na febre amarela: aspectos clínicos, histopatológicos, imunohistoquímicos e de biologia molecular em casos de autópsia realizados pelo Departamento de Patologia, durante a epidemia de 2017-2019

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Giugni, Fernando Rabioglio
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5144/tde-21032024-121028/
Resumo: Introdução: a febre amarela é uma febre hemorrágica viral, endêmica em regiões da América do Sul e da África. A sua patogenia é pouco compreendida, com a maioria dos estudos voltados especificamente para as alterações do fígado, havendo evidências escassas sobre as lesões extra-hepáticas, incluindo a cardíaca. O objetivo deste estudo é avaliar e descrever a patologia do coração, associada a características clínicas, em casos fatais de febre amarela, autopsiados pelo Departamento de Patologia da FMUSP, durante a epidemia de 2017-2019. Métodos: trata-se de estudo retrospectivo de autópsia, incluindo pacientes com diagnóstico confirmado de febre amarela entre 2017 e 2019, na Região Metropolitana de São Paulo. Foram realizados revisão de dados de prontuários, avaliação macroscópica e histopatológica cardíaca, microscopia eletrônica, ensaios de imunohistoquímica para imunofenotipagem de células inflamatórias e pesquisa de antígeno do vírus da febre amarela in situ, RTqPCR para pesquisa de RNA viral no miocárdio, e análise proteômica de citocinas inflamatórias e proteínas relacionadas à lesão endotelial por imunoensaio multiplex. Amostras de tecido miocárdico de pacientes falecidos por doenças cardiovasculares e por sepse foram incluídas para análise comparativa dos resultados de imunohistoquímica e proteômica. Resultados: foram incluídos 73 pacientes com uma mediana de idade de 48 (34-60) anos. Foram observados choque (100%), uso de inotrópicos (5,5%), taquiarritmias supraventriculares (20,5%) e bradiarritmias (6,8%). Foram realizados eletrocardiograma em 42 (57,5%) pacientes, com 34 (81,0%) alterados, e dosagem de troponina T em 58 (79,5%), com 54 (93,1%) casos com níveis elevados. À macroscopia, 78,9% dos corações examinados apresentaram peso acima de 350g e 60,0% apresentaram aumento da espessura do ventrículo esquerdo. À microscopia, foram observadas: miocardioesclerose em 68 (93,2%) pacientes, hipertrofia de cardiomiócitos em 68 (93,2%), alterações endoteliais em 67 (91,8%), necrose de fibras em 50 (68,5%), e miocardite em 14 (19,2%) casos, sendo 9 (12,3%) de etiologia viral. A avaliação do sistema de condução elétrico mostrou alta prevalência de edema e hemorragia. O infiltrado inflamatório miocárdico teve predomínio de macrófagos (células CD68 positivas). Em todos os casos avaliados foi observada a presença de antígeno viral, localizado no citoplasma de células inflamatórias e de células endoteliais do miocárdio. A análise de RT-qPCR resultou positiva em 66 (95,7%) dos 69 casos avaliados. A avaliação proteômica mostrou maior concentração de MCP-1, MIP-1, GM-CSF, IP-10, IL-6, IL-8, TNF-, IL-1, INF, IL- 10 e IL-4 no miocárdio de casos de febre amarela em comparação a controles com morte cardiovascular, e uma maior concentração de IP-10 em relação a controles cardiovasculares e de sepse. Na avaliação proteômica da função endotelial, foi identificada maior concentração de angiopoietina-2, endotelina-1, syndecan-1, VCAM-1 e PAI-1 no miocárdio de casos fatais de febre amarela em relação ao miocárdio de casos por óbito cardiovascular, mas sem diferença em relação a casos de sepse. Conclusão: a febre amarela causa frequente lesão cardíaca, clínica e histopatológica, em casos graves. Tal injúria decorre de mecanismos multifatoriais, incluindo a ação direta do vírus da febre amarela no tecido cardíaco, o processo inflamatório in situ e sistêmico, e a lesão de células endoteliais