Do culto à cultura: fatos linguísticos e sociais no colégio republicano paulista

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Coan, Giovanna Ike
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-08022017-121459/
Resumo: Na passagem dos séculos XIX a XX, Campinas era um polo de produção cafeeira no interior de São Paulo. A conjugação de condições econômicas e sociais determinou o crescimento acelerado da cidade e sua modernização, além de conferir-lhe importante papel no cenário político nacional. Na década de 1870, um grupo de republicanos idealizou o Colégio Culto à Ciência, visando a difundir o saber científico e laico aos jovens campineiros. Porém, nos anos de 1890, fatores diversos levaram ao fechamento do colégio e, em 1896, o prédio em que ele funcionava passou a abrigar o Ginásio Estadual de Campinas, uma das instâncias da reforma do ensino público paulista. Neste trabalho, analisamos produções discursivas relacionadas a essas duas instituições de ensino secundário, entre o final da Monarquia e as primeiras décadas da República, de modo que não sejam entendidas apenas como escolas de prestígio no período, mas como espaços de reunião das elites econômica e intelectual, personificadas nos seus idealizadores e no corpo docente e diretor, e como símbolos do ideário republicano na área da instrução. Sob o enfoque da História Social da Língua Portuguesa, uma área de estudos interdisciplinar, a análise de textos oriundos desse espaço social é significativa para identificar tanto elementos conjunturais quanto fatos linguísticos que reflitam e refratam a realidade em transição, além do padrão linguístico culto que servia de referencial para as escolas e, por conseguinte, para os alunos. Os corpora examinados ao longo da tese são: o discurso fundador do Culto a Ciência, proferido por Campos Sales em 1874; textos escritos por lentes de Português tanto do Culto à Ciência quanto do Ginásio de Campinas; jornais dos alunos das duas instituições; e ofícios e atas produzidos no espaço do Ginásio. Os resultados destacam a relação entre as palavras e seu conteúdo ideológico (BAKHTIN (VOLOSHINOV), 1997) no discurso republicano, fazendo emergir significações a partir de seu contexto concreto de uso; a coexistência de marcas pessoais e impessoais nas relações sociais e na língua, salientando distinção e hierarquização num contexto histórico que pressupunha a adoção de tratamentos igualitários, e.g., o tratamento por cidadão se opondo a Vossa Excelência, e o uso do imperativo (ato de comando) seguido do pronome se (impessoal); e, em se tratando do fenômeno sintático da colocação pronominal, a percepção do valor social (ECKERT, 2012) da ênclise no contexto das orações infinitivas preposicionadas, caracterizando o padrão culto do português brasileiro do período e constituindo uma marca identitária do colégio republicano paulista e daqueles que ocupavam postos de prestígio e poder na sociedade.