Tornar-se professor: um estudo sobre professores leigos amazônidas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Murta, Cláudia
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-11102006-080015/
Resumo: Este trabalho teve como ponto de origem a prática pedagógica de professores amazônidas, ribeirinhos e da floresta, que ingressaram no magistério na condição de professores leigos. Alguns, sem ter completado sequer as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Outros, sem possuir, eles próprios, sequer o nível de escolaridade no qual lecionavam. Saltou-me aos olhos, em sua prática, a autoridade com que eles assumiam a função docente, a despeito de sua formação escolar incompleta ou precária, agravada pelas suas condições extremamente adversas de trabalho, em escolas palafitas, à beira-rio, ou em ranchos de palha na floresta, com turmas multisseriadas. Empenhada em entender como tal prática pedagógica se torna possível, defini como objetivo de minha pesquisa: compreender como alguém se torna professor à margem do sistema oficial de formação e credenciamento, ou seja, que dispositivos autorizam e legitimam um professor leigo a ocupar o lugar de quem ensina. Para esse fim, analisei redações (sob o título "Como me tornei professor(a)?") de dezesseis professores que começaram a lecionar na condição de leigos, nas quais eles relatam e significam a sua trajetória no magistério. Adotei como estratégia de pensamento a análise de discurso tal como formulada por Marlene Guirado: uma leitura institucional do discurso. Essa análise de discurso ocupa-se do modo como se dão, nos discursos dos sujeitos, os efeitos de reconhecimento e desconhecimento de suas práticas institucionais. Ao mesmo tempo, adotei o conceito de transferência para compreender como, na recuperação de sua trajetória profissional, os professores estabeleciam significações com a sua história pessoal, com as figuras de professores exemplares que marcaram suas vidas, com a instituição escolar e com a pedagogia moderna (prática discursiva dominante a partir da qual todo esse tecido de significações se mostrou possível nas redações). A análise dessas redações mostra que tornar-se professor é constituir, repetir, (re)produzir, de modo singular, uma prática discursiva institucional, prática que é, ela mesma, o dispositivo que autoriza o professor, inclusive o leigo, a ocupar o lugar de quem ensina. No ponto de chegada deste estudo, evidenciou-se também que esses dispositivos de autorização não são peculiares à docência leiga. Os resultados nos permitem afirmar, de modo geral, que tornar-se professor é ocupar o lugar de quem ensina, lugar este que passa a existir conforme o sujeito nele se enuncie. Finalizo a tese postulando a docência leiga como uma descontinuidade no discurso da pedagogia moderna, não obstante, paradoxalmente, ser parte dele.