A construção das relações afetivas durante a inserção do bebê na família adotiva

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Mingorance, Regina Claudia
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-14082023-140252/
Resumo: No campo da adoção são comuns preocupações quanto ao processo de estabelecimento dos vínculos entre criança-família adotiva. Pesquisas nesta área, geralmente respaldadas na Teoria do Apego, acabam focando a relação mãe-bebê e os padrões de apego estabelecidos. O presente trabalho objetivou compreender a construção das relações afetivas entre o bebê e sua família adotiva, investigando, ao longo do tempo, as configurações da trama relacional no contexto familiar, focando os campos interativos estabelecidos entre o bebê e as pessoas presentes no seu contexto e a pluralidade de sentidos de relação afetiva e de adoção, construídos no aqui-agora das situações, suas alterações e mudanças. Para tal, foi acompanhado, durante 12 meses, um bebê, em situação de guarda provisória, em sua família adotiva (sem filhos anteriores) e outros adultos presentes no contexto. Inicialmente, os pais foram entrevistados através de um roteiro semi-estruturado, abordando dados de identificação, questões relativas a sua história de vida e expectativas frente ao bebê. Após o primeiro mês de chegada do bebê e no 12° mês, os pais e os adultos presentes foram entrevistados abordando suas relações com o bebê. Foram feitas gravações em vídeo, com 30 minutos de duração, de diferentes situações interativas entre bebê-adultos. No primeiro mês, as gravações foram semanais; no segundo, quinzenais, passando a mensais após o terceiro mês. Utilizou-se notas de campo para redação das impressões do pesquisador e informações sobre as visitas, além de um diário escrito pela mãe adotiva. A análise dos dados baseou-se na perspectiva teórico-metodológica da Rede de Significações (RedSig), em elaboração pelo CINDEDI, em interlocução com o referencial de produção de sentidos a partir das práticas discursivas. Focou-se a multidirecionalidade das relações entre o bebê e os adultos, os campos interativos em que se configuravam os papéis/contra-papéis e/ou posicionamentos assumidos e atribuídos entre o bebê e os pais e outras pessoas próximas e a construção de diversos sentidos de relações afetivas e de adoção, situadas em um contexto sócio-cultural. O contato com o material evidenciou: período de espera e desenvolvimento do vínculo mãe-bebê imaginário, recusa do pai em criar um filho imaginário e movimento de aproximação e afastamento de ambos no encontro com o bebê real; busca dos pais por uma familiaridade com a criança através de traços físicos e comportamentais, aspectos culturais, como questões de gênero e amor materno naturalizado, e pessoais influindo nas posições assumidas e atribuídas a cada pessoa na relação com o bebê e nos sentidos construídos no aqui-agora das situações. Construção de discursos de parcerias preferidas e preteridas pelo bebê, sendo a mãe inicialmente estabelecida como figura preferencial do bebê e posteriormente o pai, que enfatizou o sentido do afeto construído na relação. Momentos de afastamento entre o bebê e sua tia sob o ponto de vista desta e dos demais e afinidade com a babá. Posicionamento da família como adotiva na relação com a família extensa, amigos e pessoas no geral, necessidade de ocultar a adoção, em alguns momentos, bem como dificuldades em lidar com a existência da família biológica do bebê e o temor de perdê-lo para esta. As posições assumidas e atribuídas a cada pessoa, na trama relacional familiar, influenciaram seus posicionamentos no aqui-agora com o bebê. O uso da RedSig possibilitou vislumbrar: a relação afetiva enquanto uma construção influenciada pelas habilidades e competências do bebê que, dentro da trama relacional familiar, atravessada pela matriz sócio-histórica, constituem os lugares e as pessoas que os ocupam; a fluidez e o dinamismo das relações, compreendidas como um processo de construção permanente entre as pessoas em interação, possibilitando o desenvolvimento de várias relações afetivas, cuja força varia conforme os momentos interativos; a tentativa de negociação do lugar de adotivo atribuído à família na relação com o outro. Tal panorama reflete o quão dinâmico e conflitivo é o processo de inserção do bebê na família adotiva, remetendo à importância de maiores discussões sobre o tema e um acompanhamento mais próximo a estas famílias.