Bioética e crença religiosa: estudo da relação médico-paciente Testemunha de Jeová com potencial risco de transfusão de sangue

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Chehaibar, Graziela Zlotnik
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5131/tde-27082010-142544/
Resumo: As Testemunhas de Jeová têm preceitos religiosos que sustentam a recusa da transfusão de sangue e, frequentemente, vivenciam situações nas quais essa recusa pode ser sustentada por aspectos científicos, legais e bioéticos. Este estudo teve como objetivo analisar a relação médico-paciente Testemunha de Jeová, sob a potencial recomendação de transfusão de sangue durante a internação hospitalar. Além disso, também buscou investigar o momento e a forma da identificação do paciente Testemunha de Jeová; analisar a conduta dos médicos frente a um eventual impasse na relação com os pacientes e analisar as escolhas dos pacientes na relação com os médicos; verificar as condutas realizadas após o processo de tomada de decisão entre médico e seu paciente; e verificar se os médicos conhecem o parecer n.º 007/2004 - \"Orientação sobre Recusa de Transfusão de Sangue da Testemunha de Jeová\", da Comissão de Bioética (CoBi) do Hospital das Clínicas da FMUSP. A pesquisa foi realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) no período de fevereiro de 2007 a maio de 2009. Foram selecionados 46 pacientes e 48 médicos, buscando-se entrevistar o paciente e seu respectivo médico. Trata-se de um estudo de caso exploratório, em pesquisa clínica, com abordagem qualitativa e com uso de dados quantitativos. A análise dos dados revelou que 89,6% passaram por cirurgia e 29,2% estiveram em iminente risco de morte. Foram transfundidos 12,5%, e 8,3% chegaram a óbito. Ao se analisar as posturas dos médicos e pacientes entrevistados, quanto à maneira de lidar com a questão das escolhas foi possível identificar cinco categorias de dados, sendo 3 delas para os médicos - deliberador, pragmático e autonomista e 2 para os pacientes Testemunhas de Jeová - liberal e ortodoxo. Os dados revelaram que existe uma busca genuína dos médicos em disponibilizar técnicas alternativas para evitar a transfusão, porém, quando se trata de iminente risco de morte, a decisão é pela transfusão. Observou-se que a identificação dos pacientes como TJ ocorre tardiamente (79,2% somente após a internação) e, em situações de impasse, sempre que envolvido iminente risco de morte, a maioria dos médicos afirmou que optariam pela transfusão, mesmo sem o consentimento do paciente (91,7%). Também foi identificado que há um conhecimento limitado dos médicos sobre as leis e sobre o parecer 007/2004, sendo que 50% dos médicos entrevistados declararam conhecer a comissão de bioética, enquanto e 64,6 % declaram não conhecem o parecer. A maioria dos médicos (72,9%) é favorável a uma conduta padronizada para os pacientes Testemunhas de Jeová. Além disso, outros dados revelaram que pacientes e médicos fazem uso de documentos para salvaguardar suas decisões. Entretanto, na prática, esses documentos se mostram ineficazes, já que não evitam processos contra médicos, nem transfusões em pacientes. Salvar a vida do seu paciente é o principal compromisso da maior parte dos médicos.